sexta-feira, agosto 10, 2012

Se non è vero...



A água verde pastosa da fondamenta Cá Balá reflecte o vulto de dois homens apoiados no parapeito da ponte.
“Sabes o que me fez ficar por aqui, há tanto ano?”, perguntou o mais velho, continuando sem esperar a resposta. “O ritmo poético das águas, que parece embalar as palavras fazê-las dançar.”

O outro, rosto anguloso de rugas traçadas como num mapa, limitou-se a acenar lentamente e continuouo a fixar a água que parecia querer atraí-lo ao infinito.

“Não foram os canais nem tão pouco uma mulher, foi esta água que parece respirar, transfigurar-se ao sabor das marés. Acreditas, Corto?”

“Benne,  se non è vero è ben trovato.”, respondeu o marinheiro.


(Tarefa: encontro de Corto com Erza Pound, que viveu muitos anos em Veneza)

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