A
água verde pastosa da fondamenta Cá Balá reflecte o vulto de dois homens
apoiados no parapeito da ponte.
“Sabes
o que me fez ficar por aqui, há tanto ano?”, perguntou o mais velho,
continuando sem esperar a resposta. “O ritmo poético das águas, que parece
embalar as palavras fazê-las dançar.”
O
outro, rosto anguloso de rugas traçadas como num mapa, limitou-se a acenar
lentamente e continuouo a fixar a água que parecia querer atraí-lo ao infinito.
“Não
foram os canais nem tão pouco uma mulher, foi esta água que parece respirar,
transfigurar-se ao sabor das marés. Acreditas, Corto?”
“Benne, se non è vero è ben trovato.”, respondeu o
marinheiro.
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