quinta-feira, dezembro 31, 2009

quarta-feira, dezembro 30, 2009

terça-feira, dezembro 29, 2009

Kom Ombo

Souks, mercados de dromedários e o templo de Kom Ombo, dedicado aos deuses Horus, o falcão, e Sobek, o crocodilo.

segunda-feira, dezembro 28, 2009

domingo, dezembro 27, 2009

sexta-feira, dezembro 25, 2009

Noel e Nilo

Partida para Paris onde amanhã vai começar a viagem em feluca pelo Nilo dos faraós. A bordo de uma pequena embarcação como a da imagem, onde, não sei muito bem como nem onde, dormiremos quase todas as noites, vamos mergulhar na história ao ritmo do Nilo. Os posts vão surgir aqui, dia a dia, mas o melhor é ver os pormenores da viagem, aqui.

Sol!


As previsões meteorológicas para o primeiro dia no Nilo.
:-))

domingo, dezembro 20, 2009

Salar argentino

A água das salinas reflecte os montes de sal, as pás e as picaretas, testemunhos do trabalho dos que ali passam o dia a carregar camiões a troco de uns reduzidos pesos.
Agora, que a faina terminou e o salar é "nosso", os hexágonos de sal ganham suavidade e alma com o sol poente que, minuto a minuto, lhe altera a côr.

Sem a dimensão e a magia de Uyuni, que revisitarei dentro de poucos dias, Salinas Grandes é de uma beleza incontestável, um mundo aparte, um oásis de tranquilidade.

quinta-feira, dezembro 17, 2009

Tren de las Nubes

Páre, escute e olhe. Assim fizemos mas sabíamos de antemão que não era dia de passagem do único comboio que frequenta estes carrris, o mítico Tren de las Nubes.

O ramal faz parte da linha que ligava Salta, na Argentina, a Antofagasta, no Chile, construído para substituir as caravanas de mulas que penosamente abasteciam as minas de salitre chilenas. O engenheiro norte-americano Ricardo Murray deu início às obras em 1921 mas as dificuldades impostas pela geologia e pela morfologia do terreno, pela altitude e pelo clima foram tantas que só em 1948 foi possível fazer passar o primeiro comboio. Um pouco tarde demais pois a era do salitre estava já a terminar, fosse pelo esgotamento das minas ou do interesse económico, e as viagens terminaram também.

Só nos anos setenta os comboios tornaram a dar vida aos carris; ou, mais correctamente, o comboio, pois é apenas um. Em vez de víveres transporta turistas, de Salta a Polvorilla, numa viagem de ida e volta de 434 km, 15 horas e muitos dólares. Lá dentro impera algum conforto: vagão restaurante, serviços de guia em várias línguas, animação garantida nas estações onde pára. Mas o melhor é a paisagem, o acidentado do terreno, as pontes, a linha que se contorce em ziguezagues impossíveis, as montanhas cobertas de neve.

Um desvio de linha em Mina permite trocar a posição da locomotiva que daí até ao finaldeixa de puxar as carruagens para as empurrar montanha acima até aos 4220 metros do famoso viaduto de Polvorilla, um arco de ferro que se eleva a impressionantes 63 m sobre uma paisagem desoladora.

É proibido atravessá-lo a pé, mas, porque hoje não é sábado e o tren de las nubes não pássa, ninguém ligou ao aviso. O vento forte empurra-nos para a beira onde um varandim, demasiado ferrugento e com pedaços inexistentes, perdeu há muito a função protectora que deve ter tido e é pelo meio dos carris que percorremos os 224 metros. Lá em cima o frio, o vento, o ar rarefeito acentuam o isolamento e sentimo-nos a pairar no vazio, verdadeiramente nas nuvens.

sábado, dezembro 12, 2009

Curiua-Catu, o Homem Branco Bom

Chamava-se Pedro Teixeira mas os índios brasileiros com quem partilhou vida e aventuras conheciam-no por Curiua-Catu, o Homem Branco Bom e Amigo. Porque outros havia, e seriam a maior parte, que nem bons, nem amigos.

Era militar, e ao serviço da coroa portuguesa partiu para o Brasil em 1607. O seu destino foi a Amazónia e a jovem cidade de Belém. A sua maior aventura iniciou-a em 1637, pelo rio Amazonas, pelo interior da floresta tropical, até chegar a Quito, no Equador. Pouca coisa! No regresso ainda arranjou forças para descobrir os rios Negro e Madeira antes de chegar ao porto de partida, Belém, a 12 de Dezembro de 1639.

Muitas foram as canoas necessárias para a expedição: 47 de grandes dimensões, propulsionadas pelas forças de 20 remadores, e umas 30, mais pequenas, as necessárias para transportar os 70 soldados portugueses, além dos 1200 índios flecheiros e respectivas mulheres e filhos, que iam em busca da Terra sem Mal, a morada dos antepassados onde não se envelhecia.

No Relazion del General Pedro Teixeira de el rio de las Amazonas para el Senhor Príncipe, diário que manteve durante a viagem, descreve com pormenor tudo o que encontra, fauna, flora, as tribos com quem se cruza, os encontros com os canibais…

No passado 10 de Dezembro uma sessão especial do Senado brasileiro comemorou os 370 anos da expedição e “conquista” da Amazónia que deu ao Brasil mais de metade do seu território actual.


Fotografias: Câmara Municipal de Cantanhede (estátua de Pedro Teixeira) e Viaje Aqui (Rio Negro, confluência com o Rio Solimões)

domingo, dezembro 06, 2009

Abra de los Chorillos

Regressamos da desolação gelada de Tolar Grande pela Pista das Sete Curvas, a mesma que havíamos percorrido na véspera. Agora, sob o sol forte da manhã, as rochas que pareceram negras, as areias que ao luar brilharam como prata, perderam em mistério o que ganharam em côr. Descobrimos uma terra avermelhada como as areias do Sahara, pedras castanhas, arredondadas pelo vento. E o céu azul, o pó.

Não fossem os picos cobertos de neve, lá longe, e dir-me-ia no Tassili do Hoggar argelino. A pé, que é assim que gosto de sentir o deserto, percorro um labirinto de pequenas montanhas rochosas. Fecho os olhos, inspiro o ar ainda fresco da manhã, encho os pulmões de felicidade, dos sonhos que emprestam o nome a este pequeno vale da Puña argentina.





terça-feira, dezembro 01, 2009

Os meninos de Llullaillaco

Cinco séculos depois de sacerdotes incas terem sacrificado três crianças, uma equipa de argueólogos encontrou-as, congeladas, quase perfeitas, acompanhadas de inúmeros textéis e artefactos. Jaziam a 6740 metros, no cimo do vulcão Llullaillaco, tão perto da linha de fronteira Argentina-Chile que foi necessário um GPS para determinar a que país pertenciam: Argentina.
E é no Museo Arqueológico de Alta Montaña, em Salta, que se encontram e são expostas ao público, alternadamente, para evitar que se degradem.

À nossa frente, dentro de uma redoma com atmosfera e temperatura controladas, vigiada por guardas que impedem qualquer fotografia, está a Niña del Rayo, assim chamada por ter sido atingida por um raio que lhe queimou uma orelha e parte do ombro e do peito. Disseram os arqueólogos que ainda cheirava a queimado quando a retiraram.
Duas tranças caem de um e do outro lado da cabeça. A boca, ligeiramente aberta, as mãos que agarram a roupa como que para se proteger do frio, o ar tranquilo de quem adormeceu em paz. Teria uns seis anos...

Mais velha era a Doncella, de 14 anos, embrulhada numa túnica que dizem ser magnífica e que denotava uma condição social elevada. Um toucado de penas impressionantemente intacto completava a indumentária.

A terceira múmia é o Niño, de 7 ou 8 anos, com roupas suficientemente grandes para que pudesse crescer. Junto ao corpo, dois pares de sandálias para a longa caminhada.
E oferendas aos deuses: miniaturas de lamas, figuras vestidas com tecidos que ainda conservam as cores vivas, ornamentos preciosos, outros com penas que atravessaram 500 anos sem um único defeito.


O que terão sentido estas crianças ao dirigirem-se para o local que seria o seu último poiso na Terra, ao serem vestidas com as melhores roupas que alguma vez tinham usado? Ao saberem que tinham sido escolhidas como oferendas aos deuses, embaixadoras para o outro mundo? Sabê-lo-iam?

Não devem ter sofrido pois os seus rostos estão tranquilos, como se a qualquer momento pudessem acordar para a vida. A altitude, o frio e talvez a alcoólica chicha devem ter tornado suave a transição entre os dois mundos.

Três crianças que morreram crentes na eternidade e que, de certo modo, a atingiram pois o ADN sobreviveu nos seus órgãos e sangue congelados.


*****

As fotografias que acompanham este post foram retiradas do diaporama do The New York Times.

No site do MAAM encontra-se a história das crianças-múmia e um diaporama com alguns dos objectos que acompanhavam as crianças.

A descoberta das múmias e muito mais nos vídeos da National Geographic Society: 1 , 2 , 3 , 4 , 5 e 6.

sábado, novembro 28, 2009

A melhor maneira de viajar é sentir

Suponhamos, por um momento, que o empregado comercial Fernando Pessoa, o mestre Alberto Caeiro, os dois discípulos, Álvaro de Campos, Ricardo Reis, e ainda o ajudante de guarda -livros Bernardo Soares eram membros da mesma associação secreta de viajantes. Será que o lema da associação, a senha passe-partout dos seus membros, poderia ser outra que não esta? Para que precisa de viajar com o corpo quem tão bem viaja com a alma?


Ah, seja como for, seja para onde for, partir!
Largar por aí fora, pelas ondas, pelo perigo, pelo mar.
Ir para Longe, ir para Fora, ir para a Distância Abstracta,
Indefinidamente, pelas noites misteriosas e fundas,
levado, como a poeira, plos ventos, plos vendavais!
Ir, ir, ir, ir de vez!

Ode Marítima, Fernando Pessoa
in Livro de Viagem (Ed. Guerra e Paz)

sábado, novembro 21, 2009

Estrada de Santiago

Tinha uns 12 anos quando a vi pela primeira vez. É certo que nos tínhamos cruzado nas aulas de geografia, que lhe sabia o nome, Via Láctea, e lhe conhecia uma imagem no livro, mas vê-la a destacar-se no céu negro de um qualquer Alentejo, teve tal magia que ainda hoje não consigo deixar de a ver sem recordar o deslumbre daquela noite em que a segui durante longos minutos, através da janela do carro, em silêncio, como se no mundo nada mais houvesse.

Fazia frio, muito, muito frio, quando a vi este verão, num lugarejo perto de San Pedro de Atacama, no deserto que dizem ter um dos céus mais puros do mundo. Uma noite sem lua, sem nuvens. Ouvimos as explicações divertidas de Alain Maury, astrónomo francês estabelecido por estas paragens, e só depois enfrentámos o gelo da noite. E a Via Láctea lá estava, a pintar de magia os céus do Chile. Alain apontava um e outro e mais outro telescópio, fazia-nos descobrir as cores, os tamanhos, as distâncias, ajudava-nos com as fotografias. E que alegria trazer num cartão da máquina um pedacinho do fascínio da Estrada de Santiago!

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No site de Alex Mellinger pode ver-se como foi feita esta espantosa montagem fotográfica da Via Láctea toda inteira:



domingo, novembro 01, 2009

Um domingo diferente

O que há de comum entre o deserto e a paralisia cerebral? Nada.

O deserto reduz-nos à nossa verdadeira dimensão: um grão de areia igual a tantos outros, um entre biliões. Aprende-se a olhar para os pequenos nadas que a corrida do dia-a-dia não nos deixa ver: a pedra com uma formação peculiar, a nuvem que flutua sozinha no céu imenso.

Um passeio na ciclovia do Guincho com utentes da Associação de Paralisia Cerebral de Lisboa leva-nos a pensar naquilo com que nunca nos preocupamos, que consideramos adquiridos por tão banais serem para nós: uma gaivota que rasga o azul do céu, a pinha que enche as mãos de cheiro e de resina, a vitória de conseguir abotoar uma camisa. Pequenos nadas que são todo um tudo para quem pouco consegue ter.


A Xana ria, feliz, cada vez que conseguíamos ultrapassar a cadeira da frente, e queria mais... Ouvia atentamente o que lhe contava sobre os fogos em zonas de paisagem protegida, sorria deliciada ao afagar o cãozinho que quem se cruzou connosco lhe estendeu.

Para a Xana e para os seus companheiros foi um dia diferente, cheio de sensações novas, cheio de encanto. Para nós foi muito mais, foi a vida a recordar-nos da sorte que temos.

O que é que o deserto e a paralisia cerebral têm em comum? Nada. Ou talvez uma lição de humildade.

(Obrigada Luís e Manuel da Papaléguas)

segunda-feira, outubro 26, 2009

À espera da onda

Tudo começou nessa manhã, na praia de Morro Peixe quando, ao visitarmos a Marapa, ONG de protecção às tartarugas marinhas, deixámos cair a frase: "Que pena que não seja a altura da desova."
Da desova não era mas o sr. Hipólito, o responsável pelo centro, propôs que nos juntássemos a ele no lançamento à água de algumas tartaruguinhas. Ao pôr-do-sol, quando as aves de rapina já recolhem aos ninhos e os cães já são raros.

Chegou à hora marcada com um sorriso. Trazia milho assado para partilhar connosco, trazia um balde onde nadavam três pequenas tartarugas, três minúsculas criaturas de um verde-negro que contrastam já com as areias que o crepúsculo tornou rosadas.
Será que ouvem o roçagar doce das ondas, que sentem o cheiro a sal como apelos irresistíveis de alguma sereia?
Levam tempo a reagir. Uma cabecita que se volta para NE, depois outra e mais outra. Uma pata que esboça um movimento ligeiro ... e nada mais.


Esperamos ... esperamos ... esperamos...
A luz é já fraca quando uma delas caminha resoluta, diminui a distância à água. E pára. O mar está ali, a poucos centímetros.. E é a onda que avança, que a envolve, como que num abraço.

De respiração suspensa, emocionados, acompanhamos a cabecita que se mantém à tona de água por breves instantes, antes do mergulho que a leva para a aventura da vida.
Se tiver sorte, se conseguir escapar aos mil perigos e predadores, regressará a estas mesmas areias, desta feita para desovar. Só uma ínfima parte o consegue. Será uma delas? Imshalah.

sábado, outubro 24, 2009

Não, hoje ainda não é o dia

Às vezes há frases assim, que calam cá dentro. Chegam sorrateiras, num email, vindas de um blogue amigo: Ganhar metade para viver o dobro.

Num CD posto ao acaso Maria Rita canta:

Um belo dia resolvi mudar
E fazer tudo o que eu queria fazer
Me libertei daquela vida vulgar

e alguém rebate com o António Variações:

Muda de vida
Se tu não vives satisfeito
Muda de vida
Estás sempre a tempo de mudar

Muda de vida
Não deves viver contrafeito
Muda de vida
Se há vida em ti a latejar

Nesse mesmo dia chega um pacote de açúcar:


Ainda não é hoje o dia, mas talvez não esteja muito longe...




quarta-feira, outubro 21, 2009

Found Cameras and Orphan Pictures

Não é um post de viagens mas pode salvar algumas:
There's perhaps nothing as upsetting as losing your camera during a trip, particularly at the end, when all of your vacation photos go missing as well . Thankfully, the wonderful Web can often come in and act as a savior. Case in point: When Californian Nick Hare came across a camera while cycling in Maui, he picked it up and, after getting a digital card-reader, he found a photo of a young couple with their child. After posting the picture last week on a Facebook page he created to find the owners, a virtual six-degrees-of-separation pinballed its way through the social media sphere, and within a day, he tracked the couple down. He shared the news on the Facebook page:

The couple was found. I spoke with the husband today and will be mailing the camera tomorrow. They are from the Pacific Northwest and are currently visiting the East Coast. They received a text last night about me having their camera, about 24 hours after I posted the picture. Today they had people they haven't seen in years telling them that they lost their camera. Not quite knowing the power of the FB networking that was going on while they were on vacation, they didn't know how these people knew this. Which, I think is the best part of the story.

So what's the takeaway? First off, be sure to leave identification of some kind on your camera - be it your email or phone number on a sticker somewhere physically on the outside, or by taking a photo of your contact information and "locking" it on the camera's memory card. Too late? Try the site Ifoundyourcamera.blogspot.com, which reunites cameras and their owners.

sexta-feira, outubro 16, 2009

Sahara, marche avec moi

D'abord, le récit de la vie de Lakhdar Khellaoui, Touareg né au Niger en 1959. Une vie d'un romanesque époustouflant. Lakhdar raconte, autour du feu, l'extraordinaire parcours de sa vie nomade : les campements de l'enfance, les dernières razzias, la mort frôlée neuf fois de près, ses nombreux gagne-pain pour assurer la subsistance de sa famille, son service militaire sur le Front Polisario, sa découverte de l'Europe, sa rencontre avec les Françaises, ses amours, ses allers-retours Paris-Sahara en tant que guide pour l'agence Nomade, enfin sa vie actuelle de citoyen de l'entre-deux, le Nord et le Sud, le nomadisme et la sédentarité, le désert et la ville. Le roman vrai d'un homme à la double culture-passeur des deux rives.

Puis le carnet de voyage du peintre et écrivain voyageur Simon, réalisé lors de deux marches fabuleuses au Tassili, en 2001 et en 2008, guidées par Lakhdar. Les deux hommes se sont rencontrés en 1984 au Sahara ; les hasards chevaleresques de la vie ont fait d'eux des frères voyageurs. Le livre se compose des planches réalisées sur place : somptueux paysages de grès, animaux, copies des fresques pariétales, arbres millénaires... Les matières du désert, sable, plumes, épines, s'invitent au coeur des gouaches pour rendre la sensualité aride du Sahara. Un récit de voyage jubilatoire - véritable hymne à la marche "qui décape, allège, réconcilie" - accompagne ce travail pictural. L'un allait vers le Nord, l'autre allait vers le Sud; à la croisée de leurs chemins de vie inversés, ils ont trouvé la fraternité.

(Na Amazon.fr)

domingo, setembro 27, 2009

Just a Gigolo

Continuamos na mítica Ruta 40. A paisagem adoça-se com o amarelo dos campos, com a serenidade que os cactos emprestam às colinas. Mas logo depois a pista estreita-se, contorce-se em curvas apertadas que nos transportam montanha acima.

O gelo acumula-se nas bermas, o ar cada vez mais rarefeito torna penosa a progressão dos jipes que só a custo vencem o desnível e o piso esburacado.

A noite aproxima-se , as montanhas vestem-se de gala. No céu, os vermelhos do pôr-do-sol cedem o lugar aos azuis rosados do crepúsculo. A lua aparece e no nosso jipe a chegada aos 4895 metros do Abra del Acay faz-se acompanhando desafinadamente Louis Prima que canta "Just a gigolo".

terça-feira, setembro 22, 2009

Álbum de Fotografias - Buenos Aires

O primeiro álbum de fotografias da viagem pela Argentina, Bolívia e Chile pode ser visto aqui ou na margem do blogue em Álbum de fotografias /Buenos Aires.

domingo, setembro 20, 2009

O Faroeste argentino

Se calhar é um sonho, um sonho lindo onde as montanhas sucedem aos vales e estes às gargantas apertadas, às rochas de formações bizarras, aos desfiladeiros. Um rio com pouca água serpenteia indolente na aridez da paisagem e as poucas árvores são de um verde gritante que contrasta com os tons ocre das montanhas.

Ou então é um filme e um grupo de índios pintados para a guerra vai descer, numa cavalgada alucinante e no meio de gritos e de poeira, uma das colinas semeadas de cactos e atacar os cowboys que julgamos ser.
Ou serão alucinações provocadas pela altitude a que andamos?

Sonho, filme, alucinações.. certo é que tanta beleza parece irreal. Que bonito é o faroeste argentino!

domingo, setembro 06, 2009

Bê-á, BA

A viagem seguiu as regras do alfabeto: a, b, c, Argentina, Bolívia, Chile. E começou pelo bê-á-bá, BA, de Buenos Aires, a capital mais europeia da América latina. Não admira, pois, dizimados os indígenas pelos descobridores espanhóis, raros são os seus habitantes que não têm origem espanhola, italiana, alemã. Mas nem por isso é uma cidade homogénea, ganha alma na diversidade dos seus bairros.

O luxuoso Palermo com casas apalaçadas e relvados bem tratados onde a alta sociedade passeia os seus cãezinhos aperaltados. O popular La Boca, de casas coloridas e a animação do tango dançado à porta dos restaurantes, dos pintores de rua, dos deuses Gardel e Maradona.

O sofisticado Recoleta e o seu cemitério onde gatos bem nutridos se passeiam junto à campa da venerada de Evita Peron. O típico San Telmo de com as passagens que escondem galerias de antiquários e bric-à-brac, as "tangotecas".
E os cafés, o café e ritual do mate, as feiras e os mercados, os protestos, as mães de Maio.

Buenos Aires. Tanto para ver e tão pouco o tempo...

terça-feira, setembro 01, 2009

Dinamite Kids

"Têm apenas 1 minuto para as fotografias." Os olhos de Soledad abrem-se como que para reforçar as palavras. Somos quatro e temos uns 10 segundos cada para imortalizar a nossa imagem com um bastão de dinamite nas mãos. Ai, ai...


Ainda mal a última foto estava feita e já Soledad corria para enterrar a dinamite numa covita da encosta. E mais depresa corria no regresso, para se afastar do local da explosão.

Buuuuuuuuummmm! Bem vindos à mina de prata de Cerro Rico, em Potosi!

Vestidos a rigor, com fatos, botas, capacete e lâmpada, entramos na mina como se foramos quatro dos anões de Branca de Neve, entoado baixinho:
A nossa enxada, a nossa pá
Nós usamos pra cavar
Cavando a nossa mina

Noite e dia sem parar
O túnel escuro estreita-se, reduz-se, andamos curvados, os pés a fazer "chlep-chlep" na água que cobre o chão. Preparamos as nossas oferendas, em jeito de pedido de protecção a El Tio, o diabo que reina nos infernos da mina: um cigarro aceso, álcool a 96º, que o rótulo assegura ser potável e de bom sabor, e um punhado de folhas de coca. A temperatura sobe à medida que descemos os túneis cada vez mais baixos e estreitos.

Juan, mineiro, cansado dos seus 20 anos de mina, explica-nos que a prata está praticamente esgotada, que aqui se trabalha de forma artesanal, 6 dias por semana, todas as semanas. Dos 14 aos 45 anos, se a saúde e a sorte o permitirem, se a protecção de El Tio não faltar.
Juan não gosta do cartaz que, à entrada da mina, afixa o número de dias consecutivos sem acidentes - 56. Como se o aumentar do número fosse um mau presságio, fizesse crescer a probabilidade de um acidente.

Regressamos à luz do dia, ao ar seco e frio de Potosi. Para nós não foi mais do que uma visita; para eles, mineiros, é o trabalho duro e arriscado, a incerteza dos ganhos sempre reduzidos, a incerteza de rever os filhos que cada dia beijam como se fosse o último, a corda bamba da vida.

Que El Tio os proteja!
Fotografias: Nicole e MMP