segunda-feira, agosto 06, 2012

Grego em Veneza



“O que escondes, Leo? Qual de vós esconde a pista para a clavícula de Salomão, a pista apagada pelas brumas de Veneza?”
O olhar de Corto pousa longamente em cada um dos quatros leões do Arsenal. Olhos nos olhos, apenas, tentando que o olhar, por si só, lhe revelasse o que procurava. Não seria, com certeza, o da direita, deitado junto à água, demasiado fácil de confundir com um carneiro. Nem os seguintes, de ar cómico ou sorridente. Teria de ser o último, o da esquerda, o mais digno, orgulhoso do rei que era.
Com a certeza na alma Corto avançou, olhou-o de frente, à espera da confirmação. Não podia haver dúvida. Era este. Só podia ser este. O grego.

 Continuou parado, a pensar.
Não, não pode ser no peito, nem no lado da ponte, demasiado visíveis para quem chega ao Arsenal. O que procurava teria de estar no flanco menos exposto, o direito.
Só então Corto se aproximou da estátua, colocou-se ao seu lado e, claro, encontrou o que procurava e deixou que a mão calejada pela vida acariciasse uma a uma as letras indecifráveis gravadas na pedra.
Afinal as brumas de Veneza ainda permitiam desvendar mistérios.


(tarefa: Corto e os leões do Arsenal)

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