Passou
pelo primeiro poço sem o ver. Ao segundo, mais distante, deitou um olhar
desinteressado e foi ao chegar ao terceiro que abrandou o passo e parou. Com um
ar aparentemente descontraído olhou-o de
todos os lados. A mão passou discreta sobre a tampa de metal, como se a
acariciasse de uma forma quase sensual, os dedos nervosos percorreram o rebordo
até pararem junto a um pedaço de papel que, mais do que se ver, se sentia.
Retirou-o
à pressa e guardou-o, olhando à sua volta para se assegurar que ninguém a tinha
visto.
Respirou
fundo e avançou, agora mais confiante. No rosto que se escondia sob uma
maquilhagem carregada pintava-se agora um sorriso.
Atravessou o pátio, cruzando os arcos, entrou na sala de pedra, pequena e escura, e sentou-se. Só aí Valentina pegou no papel, desdobrou-o com cuidado. Um sorriso iluminou os olhos de um verde que contrastava com o escarlate provocante dos lábios. Acomodou-se na cadeira e esperou.
Já
perto do fim do dia, ao pátio deserto chegou uma sombra longa. Avançou sem
hesitações, passou pelo primeiro poço,
pelo segundo e, como Valentina, tacteou o rebordo em busca do que já não estava
lá.
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