O coração de Aaron batia descompassado como um relógio a que faltasse afinação. Fora por pouco mas conseguira saltar já o barco se afastava do cais.
Se
não o apanhasse... Nem queria pensar no que podia acontecer se ainda estivesse
em San Marco depois do pôr-do-sol.
A
Giudecca desenhava-se no horizonte e só a vista da ilha o descansou. Seguira as
regras, cumprira a sua obrigação.
Revoltava-o a imposição de abandonar San Marco com o sol. Os mesmos que durante o dia lhe sorriam ao estender osrelógios para que os reparasse com delicada minúcia, empurravam-no para o outro lado do canal. Como que um relógio a dois tempos. Fechadas as portas da loja fechavam-se também as da tolerância.
Nem um pé judeu podia pisar Veneza depois do sol se esconder. Como se alguém tivesse medo que espezinhasse San Marco.
O
barco acostou em Zitelle e Aaron saltou para o solo que parecia ainda balouçar.
Chegara ao seu refúgo, à sua prisão. E, como todos os dias, engoliu uma lágrima
cansada.
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