sábado, agosto 18, 2012

Badalada suspensa



 Os três romenos entretinham-se em filmes e fotografias e Guiliana deixou que os pensamentos acompanhassem o deslizar da gôndola.
Estava diferente nesse fim de tarde, mergulhada numa inquietação que já não sentia há muito. Desde pequena que o barco era o seu mundo; tentara, e conseguira, ser a primeira gondoleira. E era precisamente a ansiedade desconfortável do primeiro dia, que sentia hoje.

Passaram pela ponte delle Meraviglie e Giuliana olhou por acaso para a fondamenta junto à Cantine del Vino gia Schiavi onde um pequeno grupo saboreava o fim da tarde num copo de prosecco .
Luigi o único homem a quem amara verdadeiramente, estava entre eles, a conversar, vestido de negro, um rectângulo branco a interromper a severidade do hábito.

Os sinos descontrolados pareceram suspender uma meia badalada mas, quando recuperaram o ritmo, a remada tornou-se enérgica e, para alegria dos romenos, Giuliana entoou um sentido “Ó sole mio”.

(Tarefa: na pele de uma veneziana)

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