“Não,
Margaretta, não estás na grande pirâmide do Egipto, mas na Campanille de
Veneza. A frase não é essa. Deixa-te de tonterias e aproveita o espectáculo.”
Obedeço
com uma piscadela de olhos, tiro a máquina fotográfica da mochila, procuro
ângulos e cantos. As cadeiras amarelas da piazzetta San Marco com a ilha de San
Giorgio ao fundo? Humm, agrada-me.
Passo
as mãos e a máquina pelas grades e preparo-me para disparar. O alemão gordo que
subira connosco no elevador empurra-me e, ... OMG!, a máquina salta-me das
mãos e desce vertiginosamente esmagando-se no chão de pedra. Corro
para o elevador, impaciente. Há fila. Grande. Vá, anda! Oh meus deus, a máquina
e, mais do que ela, as fotos que lá estão.
Aqueles
telhados ali, andei debaixo deles ainda ontem, na companhia de gatos e de
Corto. A basílica de la Salute,a colá. Perdi os vídeos do concerto de órgão que
ouvimos lá.
E a piazza san Marco ao lusco-fusco, a ângustia do miúdo a que deixou a bola cair no canal, ali mesmo, olha, foi mesmo naquele sítio.
Vês
o ghetto lá ao fundo? Aquele telhado junto à torre inclinada? Foi aí que nos
sentámos a escrever sobre a misteriosa Valentina.
Perdi
tudo, tudo. Todas as minhas memórias esmagadas lá em baixo.
Saio
finalmente do elevador, varro o chão com os olhos desesperados, à procura dos
restos da máquina. Nada. Os ombros caem, impotentes, e nem sentem a mão que
lhes toca e me estende um cartão de memória que sobressai de um puzzle de peças
negras.
“É
seu?”
“Obrigada,
senhor, obrigada. Como se chama?”
“Eu?
Marco, san Marco. Encantado.”
(Tarefa:
do alto da Campanille)
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