sexta-feira, junho 18, 2010

Vale un potosí

Abandonamos o planalto e descemos para Potosí. As montanhas coloridas continuam presentes mas é quase que com surpresa apercebermos da presença verde das árvores que já não víamos há semanas e que o aproximar da primavera faz despontar timidamente. As povoações são mais frequentes, cruzamo-nos com pastores de lamas e cabras, com miúdos de sacola às costas que regressam da escola. Um outro mundo, duro, também, mas incomparavelmente menos rigoroso que o do altiplano.

E chegamos a Potosí, cidade simpática, colonial, caótica.

Corria o ano de 1544 quando o pastor Diego Hualpa saiu à procura de dois lamas perdidos. A noite caiu sem que tivesse encontrado os animais, mas o pastor não quis desistir da busca e abrigou-se no sopé dum monte para prosseguir a procura no dia seguinte. Para se proteger do frio da noite acendeu uma fogueira e o calor foi tal que a terra à sua volta derreteu e escorreu num líquido viscoso e brilhante: prata.

Os colonizadores espanhóis não tardaram a saber da descoberta, instalaram-se na região criando a cidade de Potosí e iniciando a exploração da prata escondida nas entranhas daquele a que chamaram Cerro Rico. Tão rico que se diz que a prata nele existente daria para construir uma ponte até Espanha e ainda sobrava mineral para ser explorado.
Ainda hoje se utiliza a expressão "vale un potosí" para indicar qualquer actividade muito lucrativa ou um negócio excepcional e no brasão da cidade está inscrito:

“Yo soy la rica Potosí
El tesoro del mundo
La envidia de los reyes”

Uma interessante visita à Casa Real de la Moneda dá-nos a conhecer este passado brilhante.
O filão de prata de Cerro Rico está praticamente esgotado e apenas algumas cooperativas de mineiros a exploram para dela extraír algum magro rendimento que é arredondado pelas visitas dos turistas, aventura já partilhada no post Dinamite Kids.

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