O vento quente e muito forte marcou a nossa chegada a Faya Largeau. Havia de continuar a soprar apesar das promessas: "Pára sempre por volta das 12h." Meio dia que foi passando a 15h, ... a 17h... até chegarmos ao veredito: "É sempre assim."
E foi o vento, sempre quente e cada vez mais forte, que nos acompanhou na travessia do vasto cordão dunar do Djourab. Não estamos longe da depressão de Bodélé, para onde se dirigem estas areias enfurecidas vindas do Tibesti e do Ennedi. Bodélé é considerado o lugar mais poeirento do mundo, palco de violentas tempestades de areia que, durante mais de 100 dias por ano, transportam diariamente 700 000 toneladas de poeira para lugares tão distantes como Cabo Verde ou mesmo a Amazónia.
Mas regressemos às dunas de Djourab onde encontramos os primeiros tanques, os primeiros obuses abandonados, restos recentes de lutas internas ou da guerra com a Líbia.
Os jipes saltam nas areias moles, enterram-se, exigem o esforço de todos para se libertarem. E o vento, obstinado, cada vez mais forte, a misturar grãos de areia com os do arroz simples que nos serve de jantar.
Enroscamo-nos nos sacos-cama procurando abrigos onde não existem, adormecemos protegidos pela via láctea. Se a areia que rodopia à nossa volta nos permitisse abrir os olhos vê-la-íamos linda, magnífica, a velar por nós.
E na manhã seguinte, sacudida a areia que a noite acumulou nos cabelos, na cara, nas pestanas, vencidas as últimas dunas, entrámos no Ennedi. Sem vento. Quase.
Me peina el viento los cabellos, Pablo Neruda
1 comentário:
Que lugar fantástico esse!!!
Mas acho que precisaria de um grupo tão aventureiro quanto eu e uma certa dose de coragem para andar por essas areias.....vontade eu tenho!
Beijinhos
Bia
www.biaviagemambiental.blogspot.com
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