sexta-feira, julho 18, 2014

Le désert est beau, ajouta-t-il... *


"Não vale, esta tarde já disseste magnífico" exclama P. atrás de mim! Rio-me e procuro um sinónimo. À laia de jogo combinámos não repetir adjetivos, o que é uma tarefa complicada pois o cenário por onde andamos merece-os todos e a todo o instante.
O Ennedi não é o primeiro deserto para nenhum de nós, os nossos olhos já se maravilharam com outras partes do Sahara, mas este pedaço consegue surpreender-nos.
Deixamo-nos deslumbrar pelas rochas de formas bizarras, os arcos trabalhados que se elevam imponentes no céu azul, as pinturas e gravuras que enfeitam  paredes e grutas. E são tantos os arcos e são tantos os desenhos e tão seguidos que mal temos tempo de respirar entre uns e outros. E os adjetivos, repetidos ou não, saltam espontâneos.


Mas não ficamos pelas belezas geológicas. O Ennedi é um deserto cheio de vida: gazelas, cabras, burros, macacos e até o espetáculo comovente da primeira tentativa de dromedário recém-nascido se pôr em pé (video). Os adjetivos, desta vez, não saíram, ficaram colados na garganta.


Estamos perto do Sahel, a fronteira entre as areias do Sahara e as florestas da África tropical, a água está longe mas não demasiado e permite a sobrevivência de algumas famílias Goran, conhecidos pela tenacidade com que resistem à dureza do deserto. Para eles o tempo como o conhecemos não existe, são as necessidades dos animais que condicionam a vida do grupo - procurar a vegetação rasteira que possa servir de pastagem, protegê-los dos predadores, arranjar-lhes água. Que existe, mas nunca a menos de 2 ou 3 dias de distância.
Expressões como "falta de água", "sede", "calor sufocante" têm aqui outro significado. Mais profundo. Muito mais duro.

* Le Petit Prince, Antoine de Saint-Exupéry

1 comentário:

MUHIPITI disse...

Pois... Não há sinónimos suficientes para descrever tamanha grandiosidade e magnificência...