terça-feira, dezembro 01, 2009

Os meninos de Llullaillaco

Cinco séculos depois de sacerdotes incas terem sacrificado três crianças, uma equipa de argueólogos encontrou-as, congeladas, quase perfeitas, acompanhadas de inúmeros textéis e artefactos. Jaziam a 6740 metros, no cimo do vulcão Llullaillaco, tão perto da linha de fronteira Argentina-Chile que foi necessário um GPS para determinar a que país pertenciam: Argentina.
E é no Museo Arqueológico de Alta Montaña, em Salta, que se encontram e são expostas ao público, alternadamente, para evitar que se degradem.

À nossa frente, dentro de uma redoma com atmosfera e temperatura controladas, vigiada por guardas que impedem qualquer fotografia, está a Niña del Rayo, assim chamada por ter sido atingida por um raio que lhe queimou uma orelha e parte do ombro e do peito. Disseram os arqueólogos que ainda cheirava a queimado quando a retiraram.
Duas tranças caem de um e do outro lado da cabeça. A boca, ligeiramente aberta, as mãos que agarram a roupa como que para se proteger do frio, o ar tranquilo de quem adormeceu em paz. Teria uns seis anos...

Mais velha era a Doncella, de 14 anos, embrulhada numa túnica que dizem ser magnífica e que denotava uma condição social elevada. Um toucado de penas impressionantemente intacto completava a indumentária.

A terceira múmia é o Niño, de 7 ou 8 anos, com roupas suficientemente grandes para que pudesse crescer. Junto ao corpo, dois pares de sandálias para a longa caminhada.
E oferendas aos deuses: miniaturas de lamas, figuras vestidas com tecidos que ainda conservam as cores vivas, ornamentos preciosos, outros com penas que atravessaram 500 anos sem um único defeito.


O que terão sentido estas crianças ao dirigirem-se para o local que seria o seu último poiso na Terra, ao serem vestidas com as melhores roupas que alguma vez tinham usado? Ao saberem que tinham sido escolhidas como oferendas aos deuses, embaixadoras para o outro mundo? Sabê-lo-iam?

Não devem ter sofrido pois os seus rostos estão tranquilos, como se a qualquer momento pudessem acordar para a vida. A altitude, o frio e talvez a alcoólica chicha devem ter tornado suave a transição entre os dois mundos.

Três crianças que morreram crentes na eternidade e que, de certo modo, a atingiram pois o ADN sobreviveu nos seus órgãos e sangue congelados.


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As fotografias que acompanham este post foram retiradas do diaporama do The New York Times.

No site do MAAM encontra-se a história das crianças-múmia e um diaporama com alguns dos objectos que acompanhavam as crianças.

A descoberta das múmias e muito mais nos vídeos da National Geographic Society: 1 , 2 , 3 , 4 , 5 e 6.

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