sexta-feira, abril 30, 2010

Chiu Chiu, Chile

Diz o meu fiel Lonely Planet que aqui vivem cerca de 500 pessoas. Seja. Mas... onde estão? Quinhentas almas e não vemos uma única. Até a Igreja de São Francisco que nos propomos visitar, uma das primeiras construídas no Chile, com uma mistura de traços coloniais e atacameños, está fechada.

O tempo vai passando... Releio o guia que conta que Chiu Chiu, onde estamos, era um ponto de passagem obrigatória no Caminho Inca, que a confluência de dois rios lhe dá a benção de um pouco de verde e frescura no deserto castanho de Atacama, que as paredes da igreja são feitas de adobe, cobertas por uma mistura de lama e palha. Que lá dentro há uma curiosa pintura da Paixão de Cristo e um cruxifixo de braços que se dobram para ser mais facilmente transportado.

Podemos ver o exterior, banhado pela luz dourada do final do dia, admiramos o portão feito de madeira de cacto mas o interior continua inacessível. Finalmente os passos apressados de alguém que se aproxima. É Soledad, uma matrona baixa e forte como o são as atacameñas, que chega e nos explica que as restantes almas do poblado estão no cemitério, a prestar homenagem a outra alma.
E o que a trouxe tão apressada? Um cão, um cachorro sem nome que na pressa deixou encerrado no local de culto. Foi o receio de que o canídeo pudesse conspurcar a igreja que a fez abandonar o funeral, e, já que estava ali, porque não aproveitar para nos deixar dar a olhadela há tanto aguardada?

Gracias Soledad, gracias perrito sin nombre.

quarta-feira, abril 28, 2010

Quem tem olho é rei

Chamava-se Caterina e o galante Luís lançou-lhe o olho, o único que tinha. Azar! O mesmo havia feito João que à plena posse das suas capacidades visuais aliava o facto de ser rei e senhor do primeiro.

E o que fazer quando tudo se pode e surge alguém que parece não perceber esse pormenor? Desterrar o rival, que a morte talvez fosse pena demasiada.
E foi assim que Luís foi convidado a ir carpir as suas mágoas para a tranquila Constância. Sorte a da vila que agora recolhe os louros de tão ilustre estadia, respira e transpira Camões em cada esquina. No passeio à beira-rio, na casa do poeta, no jardim do Horto...

Sentado bem perto do rio Luís parece sofrer ainda pelos não-amores de Caterina e lança ao vento e à água os últimos versos de um soneto que lhe dedicou:

[...]
Quando Liso Pastor, num campo verde,
Natércia, crua Ninfa, só buscava
Com mil suspiros tristes que derrama.

Porque te vás de quem por ti se perde,
Para quem pouco te ama? (suspirava)
E o eco lhe responde: Pouco te ama.

segunda-feira, abril 26, 2010

Almourol, o castelo

Splash, splash, splash, cantam as pagaias nas águas do Tejo. Uma garça rasa as águas num vôo elegante, uma cegonha foge assustada, as canoas deslizam ajudadas pela corrente que nos transporta docemente Tejo abaixo.
E o Castelo de Almourol surge, emergindo das águas do rio. Empoleirado numa minúscula ilha, um pouco a jusante da confluência do Zêzere e do Tejo, conta-se que ainda hoje é visitado por fantasmas.

A história passa-se nos tempos da reconquista, altura em que os cristãos se esforçavam por explusar os mouros aqui instalados e assim ganhar terras para o novel reino de Portugal.

O cavaleiro D. Ramiro, senhor de Almourol, regressava ao castelo quando se cruzou com uma jovem moura. Assustada com o tom de voz que D. Ramiro lhe dirigiu para exigir um pouco de água, a mulher deixou cair a bilha que trazia à cabeça, acto que o cavaleiro interpretou como desobediência e que custou a vida à pobre mulher. Um pouco à frente o nobre encontrou um jovem, meio escondido entre uns arbustos. Mouro, como a mulher, e seu filho.

Não se sabe bem porquê mas talvez para que esta lenda pudesse existir, D. Ramiro poupou a vida do rapaz e encarcerou-o no castelo.
Anos mais tarde o jovem que, como convém, era um príncipe árabe, apaixonou-se pela filha do seu carcereiro. Apesar de correspondido, a diferença de credos tornava o amor impossível e os dois amantes acabaram por conseguir fugir e viver a sua paixão longe da ira do senhor.

O que lhes aconteceu depois, não se sabe.
Sabe-se apenas que, nas noites de lua cheia, há quem os veja na torre do castelo e que a seus pés está D. Ramiro que, arrependido, lhes pede que regressem.

Splash, splash ... as pagaias continuam a cantar.

sexta-feira, abril 23, 2010

Chuquicamata

A presença faz-se notar a quilómetros de distância por uma densa nuvem de poeira que se eleva no deserto de Atacama. Para a descrever basta uma palavra: colossal.
Falamos de Chuquicamata, Chuqui para os locais, a maior mina de cobre a céu aberto do planeta, explorada pela Codelco, o maior produtor mundial de cobre e a empresa que mais contribui para o PIB chileno.

Mas.. já lá vamos, passemos primeiro por Calama, a cidade que a mina fez nascer e crescer.
Depois da imensidão do deserto, das aldeias de casas de adobe, Calama parece deslocada, uma peça de um puzzle que se enganou na caixa. É uma cidade moderna, com ATMs e centros comerciais, com estradas e infra-estruturas com que as outras povoações de Atacama nem sabem que existem. Boa parte da publicidade que encontramos na cidade é dirigida aos bem pagos trabalhadores da mina: as botas de trabalho da marca X, o fato-macaco Y.


É num autocarro confortável e de capacete ajustado à cabeça que entramos na zona da mina, numa das visitas que a Codelco permite.

Passamos pelo antigo bairro operário, agora desabitado pois, por questões ecológicas e sanitárias obrigaram à do pessoal para Calama. Junto à mina ficaram as casas, o teatro, a maternidade, a escola, a mercearia, vazias mas bem cuidadas.

A abrir o apetite para o prato principal, a mina propriamente dita, uma primeira paragem junto à estação de tratamento de águas. Apesar de a companhia manifestar preocupação com a segurança dos trabalhadores, o processo de extracção do metal provoca a libertação de quantidades significativas de enxofre e arsénico e conta-se que a mulher de um operário chegou a estar presa algum tempo quando o marido faleceu durante umas férias em Espanha e a autópsia revelou a presença de arsénico do cadáver.

A grandeza da mina é impressionante, como o é a das máquinas que lá trabalham, dos bulldozers e camiões que levantam nuvens de poeira quando se deslocam nos terraços do imenso poço. Apesar de enormes - só as rodas têm quatro metros de diâmetro - parecem brinquedos aos nossos olhos que os contemplam à distância.

Pena que as apertadas normas de segurança não permitissem que nos aproximássemos para uma fotografia ao lado destes colossos!


quarta-feira, abril 21, 2010

The 10 funniest safari questions

Os editores do site Go2Africa publicaram algumas das 10 perguntas mais divertidas que lhes foram colocadas. Ficam aqui algumas. No site pode lê-las todas, bem como as respostas que têm pena de não ter dado.

"Will I be able to swim with hippos in Botswana?"

"So when do you put the animals back in the cages?" (Kruger National Park)

"Can we reduce costs by excluding all meals and eating out at MacDonald's when at the safari lodge?"

"What's the difference between hiring a car and private transfers?"

"Can we pet the lions of the Masai Mara?"

"Will we have to be part of any rituals that involve cracking open a live monkey skull?"

"Do giraffes eat impalas?"

segunda-feira, abril 19, 2010

Terra de Ninguém

Chegamos ao Paso de Jama, que marca a nossa saída da Argentina, muito antes a abertura da fronteira para nos anteciparmos aos camiões que não tardarão a aparecer. Com o corpo já habituado às alturas não sentimos o peso dos 4400 metros. Mas sentimos o frio, o vento forte e gelado que sopra neste ermo desabrigado. Tudo é desolador. A fronteira reduz-se a 3 construções - um quiosque fechado, um barracão que deve servir de dormitório e a alfândega onde dois funcionários de dedos adormecidos folheiam pormenorizadamente os passaportes, verificam os documentos dos jipes com uma letargia justificada pela baixa temperatura. Finalmente entregam-nos a papelada, sem uma palavra, um sorriso.

E começa a descida, vertiginosa, para o Chile, que nos faz atravessar o que deve ser uma das mais extensas terras-de-ninguém do planeta, os 157 km que separam o controle fronteiriço da Argentina do do Chile, em San Pedro de Atacama, um desnível de 2000 metros a exigir o máximo dos motoristas que esforçam os motores dos jipes para que não façamos companhia aos muitos veículos que vemos esborrachados nas ravinas.

Mas é a paisagem, mais do que a estrada, que chama a nossa atenção. Vulcões, lagoas geladas de águas turquesa, pássaros, campos amarelos, as primeiras vicuñas, o salar de Atacama... E ao fundo a presença hipnotizante do cone quase perfeito do imponente vulcão Licancabur.


sábado, abril 17, 2010

Nas alturas

O guia, João, avançava sem esforço, num passo descontraído. Mais atrás o grupo arrastava-se pela subida que o calor intenso tornava mais íngreme. Um pouco à frente meia dúzia de pinheiros ofereceram-nos o lenitivo de uma pausa e a benção de uma sombra.

A conversa flui entre o pão e a laranja do almoço e escorre para o tema das viagens, para desejos de viagens, das próximas, das futuras, das sonhadas. E lá vêm a Índia e a Mongólia, a Tânzania e Madagáscar, o Machu Pichu... o normal. Só o João destoou. Não era uma viagem, nem sequer um sonho, era um objectivo: escalar o Evereste! As palavras sairam-lhe com o mesmo ar tranquilo e confiante com que há pouco subia o trilho que nos arrasou, mas eram horas de continuarmos o caminho e a conversa ficou por ali.

Anos mais tarde (dois? três?) o João (Garcia) foi notícia nos jornais e na TV: a 18 de Maio de 1999 atingiu o topo do mundo. Objectivo cumprido!

A preparação que permitiu este feito começou-a bem cedo. Aos 16 anos, depois de convencer os pais a participar num encontro de alpinismo na Serra da Estrela, pedala quatro dias para percorrer os cerca de 300 kms que separam Lisboa do local do encontro. Mas nem tudo lhe correu bem. Tal era o entusiasmo que se enganou na data e chegou ... um mês mais cedo.
Em 1984 sobe a sua primeira montanha de vulto, o Monte Branco, uma expedição que determinaria o rumo da sua vida.

Neste momento o João Garcia está bem alto, no Annapurna, o último dos 14 picos de mais de 8000 metros que se lhe falta vencer. Hoje mesmo, se o tempo o permitir, vai atacar o cume, juntar ao seu nome ao do Gonçalo Velez (o primeiro português a chegar lá acima) e fechar o seu projecto "À conquista dos picos do Mundo!

Próximo objectivo? O pólo Sul, 1 500 km a pé. Coisa pouca.

quinta-feira, abril 15, 2010

A lenda do Cardón

Os cactos são uma presença constante no noroeste argentino, como em todo o Altiplano. Tudo neles tem utilidade. Ainda hoje os povos andinos aproveitam a sua madeira seca para a construção ou para a criação de objectos de uso comum ou de artesanato. A sua flor, a tuna, que apenas se abre nas vésperas de dias de chuva, funciona como uma estação meteorológica caseira.
Os seus frutos eram um alimento de tal modo importante na dieta dos povos índios que fornece indicações preciosas aos arqueólogos: uma grande concentração de cactos pode resultar da acumulação de sementes ingeridas e expelidas pelos elementos de uma comunidade e indicar, assim, uma zona que merece ser escavada pois aí deve ter existido um povoado.

São várias as espécies de cactos que encontramos na zona mas o "cardón" destaca-se por parecerem representar o tronco e os dois braços de um homem. E não será?

Diz uma lenda argentina que há muitos anos a filha do chefe de uma aldeia se apaixonou por um lindo rapaz. A história não chegaria aos nossos dias se o rapaz não fosse bonito, cheio de qualidades mas de origem humilde. Unir-se à filha abastada do chefe era, por isso, impossível.
Desesperados os jovens decidem fugir mas são de imediato perseguidos pelo chefe da aldeia e por um grupo de habitantes. Em desespero pedem a ajuda de Pachamama que os transforma em cactos para que passem despercebidos aos olhos dos perseguidores. Por isso os cardóns têm uma forma quase humana.

segunda-feira, abril 12, 2010

Paleta do Pintor

Visto de longe o cemitério de Maimara, construído na encosta inclinada de uma colina, parece uma cidade em miniatura. Como se as campas fossem brinquedos de criança e formassem ruas por onde passam gnomos - os que prestam homenagem aos seus mortos e que a distância torna minúsculos.

Ao lado a montanha acentua a irrealidade. Os ocres, os amarelos, os tons pastel, misturam-se, entrelaçam-se, criando uma tela esborratada, a paleta de artista de que o Criador se deve ter servido para colorir a natureza em redor.

quarta-feira, abril 07, 2010

O reino das montanhas coloridas

Entramos na Quebrada de Humahuaca, um vale de 155 km que acompanha o curso do Rio Grande, seguindo os passos dos Incas que por aqui passaram na construção do seu império e dos conquistadores espanhóis que o utilizavam para escoar a prata da não muito distante Bolívia.
É, como toda a zona andina, uma região formada por montanhas de várias idades, e a diferença é visível, mesmo aos olhos de quem de geologia nada sabe, pois exprime-se por cores - dos vermelhos de 80 milhões de anos aos jovens brancos com apenas 3 milhões.

Na Quebrada de Humahuaca este aspecto é ainda mais visível pois aqui é possível encontrar uma enorme diversidade de cores num espaço reduzido e a Montanha das Sete Cores, junto a Purmarmaca, é disso um bom exemplo. Construída camada após camada, espelho dos movimentos telúricos frequentes, o desenho aprece ter saído da imaginação de um pintor.

Passamos pelo cemitério de Purmamarca e pelo seu curioso mausoléu da coca para nos embrenharmos neste mundo mineral assombroso. A pé descobrimos pequenos desfiladeiros, subimos colinas, maravilhamo-nos com as cores que a luz do fim do dia realça, uma caminhada suave que havíamos de refazer com outra luz e outras cores na manhã seguintes.

Bem vindos ao reino das montanhas coloridas!


domingo, abril 04, 2010

Online travel planning

Num dos últimos posts do blog Inteligent Travel da National Geographic Traveler apresentava-se o Duffelup, que facilita a planificação de viagens.

A ideia foi transpor para o mundo virtual os post-it, os papelinhos que deixamos um pouco por toda a parte, as notas escritas à pressa num caderno: os sítios que queremos ver, o restaurante recomendado, a data daquele mercado tradicional que não queremos perder, os contactos da companhia de aviação para telefonar a confirmar o vôo interno, ..., cabe lá quase tudo, dividido em 4 categorias: Actividades, Comes e Bebes, Alojamento, Transportes.

Pode ser público ou privado e, cereja em cima do bolo, permite o planeamento partilhado para que cada um possa adicionar as notas que bem lhe apetecer.

Quem viaje com um Smartphone tem a informação toda no bolso, quem, como eu, de smart nada tenha, pode escolher um dos vários formatos de impressão e levar na mochila toda a informação compilada numas folhitas bem apresentadas.

Mas o melhor é dar uma vista de olhos no tutorial.

quinta-feira, abril 01, 2010

Mais um blogue...

Com texto de Rutix e imagem de MLee aqui fica o primeiro pé, perdão, post do

Feetbook Ponha aqui o seu pezinho

Como começou este fetiche pelos pés?!
Primeiro, a Curtinho criou o seu album no Facebook intitulado "Os meus pés pelo mundo".
Depois, veio uma aspirante a Michael Palin e roubou o título para o seu blogue de escrita de viagens.
Vai daí , conversa para aqui, passinho para ali, foi feito o desafio: criar um Feetbook!

E, cá estamos!

Este blogue está aberto a quem queira postar fotos dos seus pés, lá fora ou cá dentro. E, para que o pé não fique descalço, venha um textozinho a acompanhar!!

Não se acanhe e participe.... Aqui, o seu pezinho nunca é chato!

Começo eu, e para honrar o título, aqui ficam dois "feet" e um "book"!