sexta-feira, dezembro 19, 2008

O ponto mais alto

Às vezes os números enganam. Se os 6310 metros do Chimborazo parecem poucos ao lado dos 8848 m do Everest, mude-se a origem do referencial e o vulcão ganha o estatuto do ponto mais afastado do centro da Terra. São brincadeiras com números, irrelevantes nesta altura em que atacamos o gigante Chimborazo.

Começámos aos 4800m, a altura em que parámos no Cotopaxi. Subimos a custo, no meio de neve. O peito parece rebentar com o esforço, a cabeça lateja, os pulmões ressentem-se da falta de oxigénio que aqui é apenas 54% do que há ao nível do mar. Passamos por lápides que assinalam os nomes de quem ali deixou a vida porque o coração assim o quis, por quedas ou avalanches. Só em 1993 foram 10.
E a neve não pára de cair.

Subimos até à altitude de 3031 toesas e sentíamo-nos mal, doença que só podíamos atribuir à rarefacção do ar nestas regiões elevadas [...] A neve era tanta que mal nos conseguíamos ver uns aos outros. Estávamos envolvidos por um nevoeiro que apenas permitia ver os abismos que nos rodeavam.
Alexander von Humbolt

Tal como Humbolt não chegámos ao cume, nem era esse o nosso intento. Parámos no refúgio Whymper, aos 5 000 metros, cansados, gelados, felizes. O esforço de quem atinge o cume é recompensado pelo panorama: os Andes cobertos de neve e, para ocidente, o azul do Pacífico que se adivinha. Se a neve e o nevoeiro permitirem a vista, claro.


Sem a beleza do Cotopaxi, a subida até aos 5 000 metros do vulcão Chimborazo, condignamente celebrada com um carimbo no passaporte, foi, em todos os sentidos, o ponto mais alto da viagem ao Equador e o que escolhi para ponto final neste relato.

1 comentário:

Vento no Cabelo disse...

muito emocionante!!