Contrariamente ao habitual, hoje, o recolher vai ser tardio. Culpa da festa, o serão em que cada um dos participantes neste raid vai ter de falar um pouco do seu país, contar uma história, cantar uma canção. E não foi a chuva que nos acompanhou ao longo do dia, e que nos fez chegar encharcados ao abrigo, que quebrou a animação da noite. Ao longo de várias horas cantámos, jogámos, dançámos, como se o corpo não se ressentisse do esforço a que, nestes dias, o temos obrigado.
Antes de nos irmos, por fim, deitar, Gudrum avisou-nos: "Esperem que amanhã o dia esteja melhor porque, esteja ou não, temos de continuar. E não digam que o dia de hoje podia ter sido pior porque aqui, na Islândia, pode sempre ser pior."
E foi! Chovia forte quando nos levantámos e vestimos a roupa molhada que o frio da noite não permitiu que secasse. Chovia ainda mais forte quando nos apinhámos no barracão apertado para, com estrume e lama até aos tornozelos, aparelharmos os cavalos. Chovia torrencialmente quando Gudrum lançou o terceiro "iá-iá" e partimos. E a chuva enerva os cavalos!
A manada avança num galope desenfreado, um vento fortíssimo empurra-nos da sela, grossas bolas de granizo magoam-nos a cara. Galopamos de olhos quase fechados, às cegas, a um ritmo alucinante. Inclinada sobre o pescoço de Darri, o meu cavalo favorito, o meu flying sofa, num equilíbrio que o vento torna instável e difícil, com a água a entrar pela gola e pelas mangas do impermeável e a escorrer por todo o corpo, apenas vejo à minha frente a garupa do cavalo do Richard e só espero que não se desvie do trilho, que não se perca do resto do grupo.
Mas, por estranho que possa parecer, apesar das roupas ensopadas, apesar do frio, a sensação de prazer e liberdade é indiscritível!
E quando, umas horas mais tarde, Gudrum propôs que fizessemos os últimos quilómetros da etapa na carrinha que tinha vindo ao nosso encontro, recebeu como resposta um sorriso cúmplice e um "iá-iá" em uníssono. E partimos!
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