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Nos templos os zeladores oficiais, trajados a rigor, não perdem uma oportunidade para mostrar ao turista um recanto menos visitado, passeiam-se diante dos pórticos, posam ao lado de colunas e baixos-relevos para permitir uma boa fotografia. Simpatia? Não,
baksheesh, a gorjeta mais ou menos forçada, omnipresente no mundo árabe.
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Nas aldeias, que percorremos a pé, esperava encontrar um pouco do mesmo: um povo que encara o estrangeiro como uma carteira ambulante. Enganei-me, felizmente.
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Em Fares, Daraw, Bissawa, Fawazi, ..., o tempo parece ter parado e as notas anacrónicas somos nós, o nosso vestuário, a máquina a tiracolo, a mochila. As mulheres vestidas de negro da cabeça aos pés observam-nos, divertidas; nas ruas poeirentas os homens reduzem o passo dos burros que os transportam para nos cumprimentar, sorriem. E para os miúdos somos uma festa, uma oportunidade para praticarem as duas frases de ingês que a escola lhes ensinou e que repetem até à (nossa) exaustão.
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À noite, encostados numa ilhota habitada, temos direito a convite especial e percorremos um labirinto de ruelas estreitas, mergulhadas na mais profunda escuridão, entramos descalços na sala de uma casa onde nos recebem como hóspedes de honra. A nós, mulheres, foi-nos permitido o que aos homens é interdito, ver a esposa que, sem véu e a recato dos olhares masculinos, nos preparou um chá adoçado de sorrisos.
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Foi das aldeias, dos breves encontros, que trouxe as melhores recordações do Egipto: os sorrisos do seu povo.
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1 comentário:
Que texto magnífico e sensível, Guida!!!!
Senti-me de volta...
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