terça-feira, março 30, 2010

Why we travel?

It's 4.15 in the morning and my alarm clock has just stolen away a lovely dream. My eyes are open but my pupils are still closed, so all I see is gauzy darkness. For a brief moment, I manage to convince myself that my wakefulness is a mistake, and that I can safely go back to sleep. But then I roll over and see my zippered suitcase. I let out a sleepy groan: I'm going to the airport.

[...]
So let's not pretend that travel is always fun. We don't spend 10 hours lost in the Louvre because we like it, [...] (More often than not, I need a holiday after my holiday.)
We travel because we need to, because distance and difference are the secret tonic of creativity. When we get home, home is still the same. But something in our mind has been changed, and that changes everything.

Artigo completo aqui.

sábado, março 27, 2010

Fotografias - Egipto



O último álbum de fotografias do Egipto, as aldeias e a vida no rio, está visível aqui e também acessível a partir do link "Egipto 2009", à direita.


quarta-feira, março 24, 2010

Tebas das cem portas...

"Tebas das cem portas, por cada uma das quais saem 200 guerreiros com os seus cavalos e os seus carros...", escreveu Homero na Ilíada. Mas o nome, tal como o esplendor faraónico, desapareceu há muito e a cidade é hoje conhecida por Luxor, uma ocidentalização do árabe Al-Uqsor - os palácios. E foi a Luxor e aos seus palácios que dedicámos o dia que foi o primeiro do ano e último da viagem.

Karnak é muito mais do que um templo, é, ou foi, uma cidade, um complexo religioso que se estendia por 40 hectares, que albergava 85 000 sacerdotes, além de batalhões de escravos, artesãos, servidores do culto de Ámon.
À entrada uma maquete esboça o que se pensa que tenha sido. Muito está ainda soterrado ou por reconstruir, muito se perdeu mas o que ficou é imenso, exuberante.
A alameda das esfinges de cabeça de carneiro, guardiãs de Karnak, a espantosa sala hipóstila, uma floresta cerrada de 134 colunas decoradas, envoltas numa luz difusa que banha o centro da sala, os tectos pintados com astros e figuras,...

O lago sagrado evocava o oceano de onde surgiu a Terra era palco de celebrações religiosas, lar dos gansos sagrados e local de purificação para os sacerdotes. Agora que as suas águas já não são renovadas pelas cheias do Nilo, nem comunicam com os nilómetros dos templos o lago encheu-se de algas, perdeu o cariz sagrado.

Junto ao grande escaravelho, animal que os egípcios acreditavam ser forma do sol nascente, turistas diligentes contornam-no no sentido contrário ao dos ponteiros de um relógio. Sete voltas por cada pedido.
Quase no fim da visita, no meio de tantas colunas, obeliscos e pórticos, encontro um "velho conhecido", o irmão gémeo do obelisco que enfeita o Hipódromo de Istambul, na Turquia.

É quase noite quando chegamos ao templo de Luxor, de onde foi retirado um outro obelisco, o que se encontra na parisiense Place de la Concorde, oferecido ao governo francês em 1830.
A longa alameda das esfinges, que as luzes artificiais enchem de mistério, já liga, como outrora, os templos de Karnak e Luxor, criando um gigantesco museu a céu aberto.
Sobre o pórtico onde Ramsés II mandou gravar a batalha de Qadesh, Vénus (?) brilhava intemporal num céu de cobalto.

Uma copo de karkadet no Café Oum Kassoum do souk fechou a última noite em solo egípcio.

domingo, março 21, 2010

Fotografias - a vida a bordo

Mais um álbum de fotografias do Egipto, o penúltimo, visível aqui e também acessível a partir do link "Egipto 2009", à direita.

sexta-feira, março 19, 2010

Edfu

Chegámos a Edfu, ponto final dos nossos dias de navegação, ainda o dia nascia. Dentro de 1 ou 2 horas o cais encher-se-ia de paquetes e de gentes mas a esta hora, ainda envolvido nas brumas e tranquilidade do amanhecer, era só nosso.

Às margens começavam a chegar os condutores das carruagens e pudemos assistir ao banho dos cavalos escanzelados que se preparavam para mais um dia a transportar passageiros para o templo.

Soterrado na areia até 1860, ano em que o arqueólogo Auguste Mariette encetou os trabalhos de demolição das casas que assentavam sobre o seu topo, o que surgiu aos olhos do mundo depois de removidas as areias, foi nada mais nada menos que o templo do Egipto em melhor estado de conservação, dedicado a Horus, divindade múltipla, deus-falcão do céu e do ar, protector do faraó, filho de Ísis e Osíris.

Percorro uma sucessão de corredores, vazios de gente, que se tornam cada vez mais obscuros à medida que avanço, encontro pequenas criptas que parecem surgir do nada, cada uma com uma função precisa - a câmara do tesouro, a das oferendas, a das orações... Fico por largos minutos sozinha numa delas, deixo-me transportar no tempo e imagino o andar susurrante dos sacerdotes que terão repetido vezes sem conta os gestos rituais de purificação, de celebração do nascer do sol, e um sem fim de acções destinadas a satisfazer a divindade.

No pátio banhado de luz os turistas que agora o enchem bem que podiam ser figurantes da recriação de alguma festa anual, uma das raras ocasiões em que as portas do templo se abriam ao povo para a celebração do combate vitorioso de Horus sobre Seth, o assassino de seu pai, a vitória do faraó sobre os seus inimigos, do Bem sobre o Mal.

domingo, março 14, 2010

Oh dôce luz! oh lua! Que luz suave a tua*

De repente o vento desitiu de soprar forte e a feluca navega agora num sussurro. As bolinas tornam-se muito suaves, o Nilo acalmou e pediu emprestados ao céu os tons rosados do pôr-do-sol.

A oeste o sol esconde-se e cede o palco para o espectáculo a leste, com a lua a nascer redonda, enorme, por entre as palmeiras, no instante preciso em que o muezin de uma mesquita que não vemos ergue a voz para a oração. Arrepiante.

Que de melhor se poderia ter pedido para último dia do ano?


(* primeiros versos de Melancolia, de João de Deus)

quarta-feira, março 10, 2010

When Egyptian Eyes Are Smiling

Nos templos os zeladores oficiais, trajados a rigor, não perdem uma oportunidade para mostrar ao turista um recanto menos visitado, passeiam-se diante dos pórticos, posam ao lado de colunas e baixos-relevos para permitir uma boa fotografia. Simpatia? Não, baksheesh, a gorjeta mais ou menos forçada, omnipresente no mundo árabe.

Nas aldeias, que percorremos a pé, esperava encontrar um pouco do mesmo: um povo que encara o estrangeiro como uma carteira ambulante. Enganei-me, felizmente.

Em Fares, Daraw, Bissawa, Fawazi, ..., o tempo parece ter parado e as notas anacrónicas somos nós, o nosso vestuário, a máquina a tiracolo, a mochila. As mulheres vestidas de negro da cabeça aos pés observam-nos, divertidas; nas ruas poeirentas os homens reduzem o passo dos burros que os transportam para nos cumprimentar, sorriem. E para os miúdos somos uma festa, uma oportunidade para praticarem as duas frases de ingês que a escola lhes ensinou e que repetem até à (nossa) exaustão.

À noite, encostados numa ilhota habitada, temos direito a convite especial e percorremos um labirinto de ruelas estreitas, mergulhadas na mais profunda escuridão, entramos descalços na sala de uma casa onde nos recebem como hóspedes de honra. A nós, mulheres, foi-nos permitido o que aos homens é interdito, ver a esposa que, sem véu e a recato dos olhares masculinos, nos preparou um chá adoçado de sorrisos.

Foi das aldeias, dos breves encontros, que trouxe as melhores recordações do Egipto: os sorrisos do seu povo.

sábado, março 06, 2010

All aboard!

Como vivem 18 pessoas a bordo de uma feluca de 15 metros? Apertadas, claro! O espaço reduzido exige alguma organização. Às refeições as bebidas só vêm para a mesa depois de todos termos comido, para evitar que o estender do braço para chegar ao frasco do doce entorne o café sobre a toalha-colchão.

Prepararmo-nos para a noite, ir buscar roupa ou o saco-cama, tem os contormos de uma expedição. A bagagem está guardada na "mina", um túnel longo, baixo e escuro no porão da feluca, onde só podemos ir à vez, de lanterna e a rastejar. Uma vez lá dentro segue-se uma demonstração de contorcionismo até se conseguir aceder ao saco e retirar o par de meias para o dia seguinte, ou para recuarmos, sempre de rojo, arrastando a trouxa até à claridade do convés.

O resto do tempo, as horas de navegação, são passadas com conversas ou jogos, a tentar por leituras em dia ou a olhar para as margens que passam como um filme.

Com o vento predominante a chegar de norte e sendo para norte que nos dirigíamos, era à bolina que avançávamos. Em geral o progresso era calmo ou mesmo lento, muito lento, e o vento que não havia deixava-nos a flutuar, parados, no meio do rio e nos obrigou uma noite a acender as lanternas e esbracejar energicamente para assinalar a nossa presença a um paquete que se aproximava demasiado e que, na escuridão que nos envolvia, não se tinha apercebido da casquinha de noz que estava à sua proa.
Vezes houve também em que o vento frio resolvia obrigar-nos a ir à "mina" procurar casacos e gorros que nos protegessem do frio e da água que entrava.


Nasser, mais pesado, largou os afazeres da cozinha e passou para o leme mas rapidamente teve de pedir ajuda a Houssama, para juntarem forças para as manobras.
E nós lá dávamos a ajuda que podíamos, passando de bombordo para estibordo e de regresso a bombordo à medida que as bolinas se sucediam, curtas e cerradas.

E quando no final desse dia fundeámos junto a uma olha soube bem o colocar das lonas para nos proteger do vento quand, por fim, nos conseguimos enroscar nos sacos-cama e adormecer.