De todos os países que visitei foi a Austrália o que mais me surpreendeu, o que menos correspondeu ao que dele imaginava.
Grande como toda a Europa, esperava uma sensação de liberdade e encontrei vedações que, a escassos metros das pistas, impedem a passagem, protegem o que é parque nacional, ou território sagrado aborígene ou herdades de dimensões irreais.
Esperava vistas até ao infinito e descobri florestas tão cerradas que gostava de as ter destruído para poder ver o que escondiam.
Preparava-me para banhos deliciosos nos seus 26 000 km de costa mas, em quase todos os sítios por onde andámos, nem um pezinho lá pude pôr: crocodilos e medusas e raias e tubarões, que bem os vimos, tornam as águas turquesa e deliciosamente apetecíveis, num fruto proibido, um suplício de Tântalo.
Esperava um povo descontraído e espantei-me com o formalismo, a precisão, o cumprimento rígido de regras.
Esperava ver cangurus, ornitorrincos e coalas, mas, nas primeiras semanas, os únicos animais selvagens que vimos foram cavalos, burros e camelos.
Esperava céu azul e encontrei uma estação seca... chuvosa.
Mas vi gargantas misteriosas, montanhas às riscas, rochas em equilíbrios impossíveis, nadei a centímetros de grandes crocodilos e atrás de tubarões. Conversei com aborígenes e soprei um didgeridoo, encontrei personagens dignas de um filme, atravessei rios a nado, percorri grutas escuras com água pela cintura, sem saber por onde me levaria o passo seguinte.
Adormeci sob céus de milhões de estrelas, acordei ao som de sinfonia de dezenas de pássaros diferentes, afastei da tenda sapos e aranhas que lá queriam entrar, afastei-me prudentemente de lagartos grandes como cães, passei pelo meio de colónias de enormes morcegos, vi uma escada que subia até à luaSacudi os ossos em pistas esburacadas, molhei os pés nas passagens de rios, subi e desci pedregulhos, encharquei-me com a água quente do Pacífico que invadia o convés do ferry.
E vi, afinal, cangurus e wallabies, dingos e kookaburras, brolgas e jabirus, koalas e lagartos espinosos e até o raro casuar e sua cria.
E vivi a magia do pôr e do nascer do sol em Uluru, o fascínio de mergulhar, mesmo com chuva, em gargantas cheias de vida da grande barreira de coral.
De todos os países que visitei foi a Austrália o que mais me surpreendeu. No fundo, como os australianos gostam de dizer, expect the unexpected.
6 comentários:
Caminhaste por onde não fui (excepção feita a Barreira); sopraste o instrumento reservado aos homens aborígenes mas creio que já não estarás preocupada com questões fertilidade :)
A Austrália é imensa sim e impossível de absorver em uma, duas ...sabe-se lá, quantas visitas.
País de contrastes (na língua, nos povos, na geografia e ate nos fusos horarios) e tão longe de tudo que se tenta também na curiosidade e absorção dos outros Continentes.
Ainda voltarei, um dia.
Guidinha!
Austrália é imensa sim um país de grandes contrastes a vários níveis!E, tal como tu, não em encantou, assim tanto como imaginava!
A nível do turismo, achei sem dúvida, um dos países mais eoluídos e mais bem preparado para receber o turista, pela forma como tem tudo organizado e facilitado.
O fascínio de certas zonas, que o nosso imaginário idealiza, perde-se com a modernização do ambiente, o que faz perder a beleza natural e selvagem.
Mas, ainda tem zonas, com algum encanto inesperado!
Adorei cruzar com os Cangurus em jardins públicos e conseguir tocar-lhes! Pois nunca tinha tido essa sensação!
Os koalas é k só os consegui ver em cativeiros preparados para o turista. Mas, foi espetacular ter no colo um Koala.
Também me deliciei com algumas paisagens e a imensa passarada colorida k esvoaçavam pelas arvores de jardins e selva por onde passei.
A Brreira de Corais, apesar da fama k tem...não me encantou assim tanto....pois ja tinha feito mergulho em locais em que vibrei bem mais!
Os crocodilos vi muitos.....mas játinha visto....e nao me marcou assim tanto......
Jokassssssssss
LiviGon
Fiquei sem fôlego só de ler o resumo do que fizeste!!
E ainda mais ansiosa fiquei por ouvir o relato ao vivo, animado pelas conversas
E expect também emocionar-me por aqui, lendo a poesia da tua prosa.
Welcome back,mate!
Adorei o teu resumo! Bastou para já ter adorado a Austrália sem nunca lá ter ido. Mas gostava de ir...um dia!...
Gostei muito do resumo e claro as tuas sempre fantasticas fotografias.
Aguardo por mais.
Apesar do modernismo e até do formalismo que não imaginei, a Australia faz ainda parte do meu Imaginario e lá irei um dia :-)
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