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O primeiro sinal é dado pelos
muezzins que chamam os fiéis para a primeira oração do dia. São cinco e meia e o sol está a nascer. A feluca acorda, Ossama e Mohamed preparam a partida. Passo por cima dos corpos apertados dos que ainda dormem no colchão que faz as vezes de cama, mesa e sala de estar, procuro os sapatos amontoados num caixote à proa, salto para terra em busca de uma "casa de banho". Mesmo a tempo. Uma corrida pela prancha que serve de escada de tombadilho e soltamos amarras.
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Nasser, no cantinho que serve de cozinha, aquece a água para o primeiro café dos madrugadores, dois ou três, que nos instalamos à proa em cada manhã, sempre fresca e húmida.
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A feluca desliza suave, muito suavemente, quebra a medo o espelho que são as águas. Das margens chegam os primeiros sons: o coaxar de uma rã, o bater de asas de pássaros que não vemos, uma galinha de água que mergulha. Pesacadores num pequeno barco a remos lançam a rede às águas ainda cobertas de bruma. Um bando de corvos marinhos percorre o céu, um pica-peixe ensaia mergulhos delirantes, as garças empoleiradas nas árvores espreguiçam-se esticando as asas.
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Pouco a pouco as aldeias acordam. Um homem arrasta um vitelo para o pasto, um outro carrega um burrito com feno. Pouco a pouco também, os nossos companheiros emergem dos seus casulos coloridos e os escassos metros quadrados de colchão transformam-se na mesa de refeição, os sacos-cama cedem lugar à toalha.
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O pão,o doce de figo, o queijo e o café convertem os ensonados "humm" em conversas bem dispostas.
E um novo dia começa. Bom dia Nilo!
1 comentário:
Depois de ler este texto, ainda fico com mais pena de não ter ido também. Para recordar cheiros e sons e repetir sensações!
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