O primeiro álbum de fotografias da viagem ao Senegal pode ser visto aqui ou na margem do blogue em Álbum de fotografias / Senegal - Dezembro 2008.
sábado, janeiro 31, 2009
sexta-feira, janeiro 30, 2009
A Ilha das Conchas
Crac-crac ... fazem os nossos pés quando percorremos as ruas da pequena aldeia-ilha de Fadiouth. Crac-crac porque o chão está coberto não de terra ou areia, muito menos de alcatrão, mas de conchas. Milhares, milhões de conchas.
Crac-crac, o chão que agora pisamos é o da pomposa "Avenue des Champs Elysées". Nem mais!
Gente simpática que nos cumprimenta, adolescentes que se animam em volta dos matraquilhos, um grupo de homens que joga às cartas, a enorme igreja de São Francisco Xavier, junto ao baobá sagrado. Aqui invertem-se as proporções de crentes - 90% são cristãos, os restantes muçulmanos. Todos animistas, claro!
Gente simpática que nos cumprimenta, adolescentes que se animam em volta dos matraquilhos, um grupo de homens que joga às cartas, a enorme igreja de São Francisco Xavier, junto ao baobá sagrado. Aqui invertem-se as proporções de crentes - 90% são cristãos, os restantes muçulmanos. Todos animistas, claro!
Uma ponte estreita leva-nos a outra parte da aldeia, a ilha-cemitério onde, por entre baobás, cristãos e muçulmanos reposam, lado a lado, cobertos de conchas.
Por fim, é de piroga que chegamos à terceira ilhota, meio escondida por entre os mangais, que constitui o celeiro de Fadiouth. Construídos sobre estacas para resistir às marés, os celeiros estão propositadamente numa ilha à parte para evitar que as colheitas fossem destruídas pelos frequentes fogos que arrasavam a aldeia, nos tempos em que as casas eram de madeira. Protegem-nas agora dos animais mas não há quem os proteja a eles do quase abandono a que estão votados nestes dias em que a população, pouco a pouco, põe de lado a agricultura para se dedicar à pesca e ao turismo.
Por fim, é de piroga que chegamos à terceira ilhota, meio escondida por entre os mangais, que constitui o celeiro de Fadiouth. Construídos sobre estacas para resistir às marés, os celeiros estão propositadamente numa ilha à parte para evitar que as colheitas fossem destruídas pelos frequentes fogos que arrasavam a aldeia, nos tempos em que as casas eram de madeira. Protegem-nas agora dos animais mas não há quem os proteja a eles do quase abandono a que estão votados nestes dias em que a população, pouco a pouco, põe de lado a agricultura para se dedicar à pesca e ao turismo.
domingo, janeiro 25, 2009
Teranga
É a imagem do país: teranga - hospitalidade, tolerância, simpatia.
Senão veja-se: dizem os livros que 94% da população é muçulmana, 4% cristã e 2% animista. Em teoria, porque, na prática, o animismo, mais ou menos vivido, coabita sem problemas com os outros cultos. Reza-se a Alá ou a Jesus Cristo mas não se desdenha o sacrifício do galo.
Noite de 24 de Dezembro, festa cristã. Sendo os cristãos uma minoria pode pensar-se que os festejos passam despercebidos. Errado! Festa é festa e o resto não interessa. Senegalês que se preze não desperdiça uma oportunidade de reunir família e amigos e celebrar. E é vê-los, cristãos e muçulmanos, nos seus melhores trajes, a encher as igrejas na missa do galo, lado a lado.
Senão veja-se: dizem os livros que 94% da população é muçulmana, 4% cristã e 2% animista. Em teoria, porque, na prática, o animismo, mais ou menos vivido, coabita sem problemas com os outros cultos. Reza-se a Alá ou a Jesus Cristo mas não se desdenha o sacrifício do galo.
Noite de 24 de Dezembro, festa cristã. Sendo os cristãos uma minoria pode pensar-se que os festejos passam despercebidos. Errado! Festa é festa e o resto não interessa. Senegalês que se preze não desperdiça uma oportunidade de reunir família e amigos e celebrar. E é vê-los, cristãos e muçulmanos, nos seus melhores trajes, a encher as igrejas na missa do galo, lado a lado.
Nem na comida há segregação. É certo que os muçulmanos não admitem carne de porco à sua mesa mas não é por isso que se importam que os seus borregos partilhem o terreiro com os suínos pertença da família cristã que vive ao lado, ou que o talho tenha um pedaço de entrecosto de porco misturado com as pernas de carneiro que compram.
O estrangeiro, o desconhecido que se cruza na rua, é bem vindo, recebido com sorrisos francos. Diz-se bom dia a todos mas não se fica por aí. "Nanga def?" Há que inquirir pela saúde de toda a família, um a um. Pela mãe, o pai, o marido e os filhos, os irmãos. E só depois das respostas e de responder por sua vez às perguntas equivalentes que o visitante também faz, é que continua o caminho.
"Ba bénen", até à próxima.
"Ba bénen", até à próxima.
domingo, janeiro 18, 2009
Se fosse Deus parava o sol sobre Lisboa
Logo a abrir apareces-me pousada sobre o Tejo como uma cidade a navegar. Não me admiro: sempre que me sinto em alturas de abranger o mundo, no pico de um miradouro ou sentado numa nuvem vejo-te em cidade-nave, barca com ruas e jardins por dentro, e até a brisa que corre me sabe a sal.
Ah, sim. "Se fosse Deus parava o sol sobre Lisboa", escreveu Fernando Assis Pacheco num poema tonto de luz (a tão citada luz sempre imprevista). De acordo, mas uma cidade de caprichos como esta nunca o sol a pode iluminar por igual. Tem de se lhe afeiçoar aos contornos e aos instintos desordenados, à sua placidez aqui, ao burburinho dos bairros velhos acolá, e é com esses desvelos que ele lhe dá cor singular.
Ah, sim. "Se fosse Deus parava o sol sobre Lisboa", escreveu Fernando Assis Pacheco num poema tonto de luz (a tão citada luz sempre imprevista). De acordo, mas uma cidade de caprichos como esta nunca o sol a pode iluminar por igual. Tem de se lhe afeiçoar aos contornos e aos instintos desordenados, à sua placidez aqui, ao burburinho dos bairros velhos acolá, e é com esses desvelos que ele lhe dá cor singular.
José Cardoso Pires
in Lisboa - Livro de Bordo
Lisboa a pé com o Desporto da Universidade de Lisboa e Lisbon Walker. Mais fotografias aqui.
in Lisboa - Livro de Bordo
quinta-feira, janeiro 15, 2009
Sorria, está no Senegal!
Os próprios senegaleses dizem que só se vem a Dakar para partir mas convenha-se que nem isso é fácil.
A cidade fica na ponta de uma península pequena e estreita. Junte-se as muitas ruas cortadas pelas obras, os inúmeros sentidos proibidos que mudam frequentemente, as carroças, os peões, os táxis em contra-mão e é fácil perceber porque é que as poucas vias de entrada ou saída estão sistematicamente engarrafadas.
A cidade fica na ponta de uma península pequena e estreita. Junte-se as muitas ruas cortadas pelas obras, os inúmeros sentidos proibidos que mudam frequentemente, as carroças, os peões, os táxis em contra-mão e é fácil perceber porque é que as poucas vias de entrada ou saída estão sistematicamente engarrafadas.
Tão irremediavelmente engarrafadas que o melhor é aproveitar as 2 ou 3 horas de pára-arranca. Para abrir a porta, deixar entrar o ar fresco e descansar um pouco, para olhar a pintura naif de uma parede ou fazer umas compras. Sem sair do carro, claro.
Talvez não seja possível um corte de cabelo ou mandar fazer um fato na hora mas dá certamente para lançar o olho às bitiks (leia-se "boutiques") que ostentam, orgulhosamente, nomes como Galeries Lafayette, Auchan, Carrefour. Fácil é comprar uma melancia ou um pacote de lenços de papel, um boné com as cores do Senegal ou uma chave de parafusos, um pedaço de carne de carneiro ou um DVD pirata, comer uma kebab ou um pastel, beber uma taça de nescafé feito na hora ou um sumo de baobá.
sábado, janeiro 10, 2009
Parabéns Tintin!
Tintin fête ce samedi ses 80 ans. C’est le 10 janvier 1929 que les lecteurs du magazine « Petit Vingtième » font connaissance pour la première fois avec Tintin, déjà accompagné de son fidèle chien Milou. « Tintin aux pays des Soviets », la première aventure en noir et blanc du reporter à la houppette, plonge le jeune lecteur dans les premières années mouvementées de la Russie bolchevique.
Tout commença en U.R.S.S. Puis ce fut le tour du Congo, suivi de l'Amérique. Vinrent ensuite l'Égypte et la Chine, l'Amérique du sud et l'Écosse. Et même la lune, un jour. Sans oublier des pays imaginaires comme la Syldavie, la Bordurie ou le San Theodoros… Pour Tintin, le globe terrestre n'était rien d'autre qu'un terrain de jeu. Une rampe de lancement d'où il s'élança sans relâche, guidé par le démon de l'aventure et le sens de la justice.
Rien d'étonnant alors, à ce que le magazine Géo, consacré à l'exploration de la planète, ait décidé de dédier un numéro hors-série aux pérégrinations du personnage d'Hergé. Résultat : plusieurs centaines de milliers d'exemplaires vendus et ce hors-série est devenu un livre, reprenant fidèlement le contenu élaboré par une équipe de reporters lancés sur les traces de Tintin. L'idée était excellente et le résultat passionnant : demander à de vieux briscards du reportage de mettre leur pas dans ceux du héros d'Hergé, histoire de voir où en sont aujourd'hui certains des pays visités dans ses albums. Pérou, Congo, Écosse, Shangai, Tibet… Autant de destinations "revisitées", sujets de grands reportages soucieux de confronter la vision rapportée par les bandes dessinées d'Hergé à la réalité d'aujourd'hui. Sans oublier un chapitre destiné à localiser avec précision la Syldavie, nichée quelque part dans les Balkans…
Outre ces reportages, le livre apporte un éclairage sur les autres facettes de l'œuvre d'Hergé : les inventions – souvent visionnaires – de Tournesol, les périples maritimes de son héros, le bestiaire des aventures de Tintin, ses différents moyens de locomotion, les personnages réels ayant servi de modèle, etc. Et reprend le dépliant en forme de fresque où se tiennent, coude à coude, les quelque cent quarante personnages qui ont défilé tout au long des vingt-quatre albums… Un panorama impressionnant, qui fut envoyé en guise de carte de vœux par Hergé en 1972. Avec ses 276 illustrations et ses onze cartes, ce livre constitue une véritable invitation au voyage en compagnie de l'un des plus fameux explorateurs de notre siècle. --Gilbert Jacques
De "Tintin, grand voyageur du siècle", à venda aqui.
Os 80 anos de Tintin por Carlos Pessoa (Público):
A primeira aventura de Tintin começou há 80 anos no suplemento infantil do jornal belga "Vingtième Siècle". Levou o herói ao País dos Sovietes e foi um sucesso imediato. Seguiram-se mais 22 aventuras do jovem repórter que conquistou um lugar à parte no imaginário colectivo
Nos primeiros dias de Janeiro de 1929, o jornal belga Vingtième Siècle incluiu um discreto anúncio. Em fundo, as cúpulas russas; em primeiro plano, um jovem de perfil, com uma cabeça redonda, nariz saliente, grandes sobrancelhas e cabelo rebelde caído para a testa. Calçava sapatos enormes e usava um fato de golfe aos quadrados. Na legenda: “Acompanhem, a partir da próxima quinta-feira, as extraordinárias aventuras de Tintin, repórter, e do seu cão, Milou, ao País dos Sovietes.” (continue a ler...)
domingo, janeiro 04, 2009
Dakar - carroças e karrapits
"Não parece que estou em África!" Foram as primeiras palavras que me vieram à cabeça ao aterrar em Dakar. Lá do alto a cidade apareceu bem iluminada, com arranha-céus modernos, e as formalidades de desembarque são rápidas, bem organizadas.
Mas bastaram os primeiros quilómetros na estrada que liga o aeroporto à cidade para que a impressão se desvanecesse.
Mas bastaram os primeiros quilómetros na estrada que liga o aeroporto à cidade para que a impressão se desvanecesse.
Mesmo às primeiras horas da manhã a confusão reina. Nos passeios as pessoas disputam um lugar de passagem por entre as bancas rudimentares onde se vende roupa em 2ª mão, fruta, tabaco, jornais, pentes, bebidas, móveis, bolos e pensos.
No alcatrão carros e jipes ziguezagueiam entre as dezenas de carroças e os karrapit (leia-se "car rapide"), os autocarros azuis e amarelos cujo lema é: "S'en fou la carrosserie."
Os cheiros misturam-se. O vento traz o do mar, ali ao lado, mas logo se dilui no dos esgotos, da poluição, dos fritos e dos amendoins grelhados.
E as buzinas mal deixam ouvir os muezzins que, do alto dos minaretes, chamam os fiéis à oração.
No alcatrão carros e jipes ziguezagueiam entre as dezenas de carroças e os karrapit (leia-se "car rapide"), os autocarros azuis e amarelos cujo lema é: "S'en fou la carrosserie."
Os cheiros misturam-se. O vento traz o do mar, ali ao lado, mas logo se dilui no dos esgotos, da poluição, dos fritos e dos amendoins grelhados.
E as buzinas mal deixam ouvir os muezzins que, do alto dos minaretes, chamam os fiéis à oração.
O sorriso instala-se, a viagem começa...
sexta-feira, janeiro 02, 2009
Latitude Zero
A viagem ao Equador foi a ocasião ideal para ler "Latitude Zero" onde o sul-africano Mike Horn relata a sua fabulosa expedição ao longo dos 40000 quilómetros da linha equatorial. Do Gabão .. ao Gabão, atravessou três oceanos, selvas impenetráveis, países em guerra, subiu dois picos de 6000 metros. A pé, de piroga, de catamarã, de bicicleta.
Deixo aqui um pequeno extracto da sua travessia da Amazónia:
Deixo aqui um pequeno extracto da sua travessia da Amazónia:
Je mets quatre heures à faire la première moitié du chemin, soit trois cents mètres. À bout de forces, je m'arrête en plein milieu du marécage. Il faut absolument que je me repose quelques minutes. Je ferme les yeux ... et je m'endors debout. L'instant d'après, je suis brutalement reveillé par l'eau croupie qui me gifle le bisage.
Je repars. Mes mains ne sont plus qu'une plaie dont le sang ruiselle. Je n'arrive plus à tenir ma machette. J'ai brièvement la tentation de reculer, mais, malgré la douleur, je refuse cette idée. Moins par héroisme que pour ne pas avoir à retraverser ces trois cents mètres d'enfer.
Je repars. Mes mains ne sont plus qu'une plaie dont le sang ruiselle. Je n'arrive plus à tenir ma machette. J'ai brièvement la tentation de reculer, mais, malgré la douleur, je refuse cette idée. Moins par héroisme que pour ne pas avoir à retraverser ces trois cents mètres d'enfer.
L'expression "enfer vert" n'a pas été inventée pour rien. La jungle, surtout la nuit, est terrifiante. Si je prenais vraiment conscience de l'immensité verte, quasi infinie qui m'entoure, de cette vegétation et de cette faune grouillantes, de ces millions de prédateurs, de ces milliards d'insectes ... je pourrais devenir fou. Maintenant je comprends pourquoi certains hommes, égarés dans la jungle, ont perdu la raison.
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