quinta-feira, janeiro 28, 2010

Um novo dia

O primeiro sinal é dado pelos muezzins que chamam os fiéis para a primeira oração do dia. São cinco e meia e o sol está a nascer. A feluca acorda, Ossama e Mohamed preparam a partida. Passo por cima dos corpos apertados dos que ainda dormem no colchão que faz as vezes de cama, mesa e sala de estar, procuro os sapatos amontoados num caixote à proa, salto para terra em busca de uma "casa de banho". Mesmo a tempo. Uma corrida pela prancha que serve de escada de tombadilho e soltamos amarras.

Nasser, no cantinho que serve de cozinha, aquece a água para o primeiro café dos madrugadores, dois ou três, que nos instalamos à proa em cada manhã, sempre fresca e húmida.

A feluca desliza suave, muito suavemente, quebra a medo o espelho que são as águas. Das margens chegam os primeiros sons: o coaxar de uma rã, o bater de asas de pássaros que não vemos, uma galinha de água que mergulha. Pesacadores num pequeno barco a remos lançam a rede às águas ainda cobertas de bruma. Um bando de corvos marinhos percorre o céu, um pica-peixe ensaia mergulhos delirantes, as garças empoleiradas nas árvores espreguiçam-se esticando as asas.

Pouco a pouco as aldeias acordam. Um homem arrasta um vitelo para o pasto, um outro carrega um burrito com feno. Pouco a pouco também, os nossos companheiros emergem dos seus casulos coloridos e os escassos metros quadrados de colchão transformam-se na mesa de refeição, os sacos-cama cedem lugar à toalha.

O pão,o doce de figo, o queijo e o café convertem os ensonados "humm" em conversas bem dispostas.

E um novo dia começa. Bom dia Nilo!

quinta-feira, janeiro 21, 2010

Ramsés e Nefertari

A noite anterior foi curta de três horitas de sono e hoje o despertador toca às 2h45m. Mas isto são férias?! São! E o acordar tão matutino justifica-se com duas palavras: Abu Simbel.

A construção da barragem de Assuão, para proteger o Egipto dos caprichos do Nilo, condenava 24 templos à submersão. Uma campanha internacional em que a UNESCO se acabou por envolver conseguiu reunir fundos suficientes para que o templo de Abu Simbel, e vários outros, fossem salvos das águas.
Cuidadosamente cortado em mais de 1000 pedaços, alguns com 20 toneladas, o grande templo do sol, erigido por Ramsés II, foi meticulosamente reconstruído como se fosse um puzzle e colocado numa colina artificial, 200 metros mais afastado e 60 mais acima do seu poiso original, ficando assim a salvo das águas do Nilo.

Atentados terroristas dos últimos anos obrigaram as autoridades egípcias a impôr regras que justificam que a partida para Abu Simbel se faça com os carros agrupados em coluna com escolta militar. Duzentos e noventa quilómetros de deserto, que percorremos quase todos de noite e a dormir.

Abu Simbel tem dois templos. À entrada do maior quatro estátuas de 20 metros representam Ramsés II, sentado. No interior esculturas e baixos-relevos sublinham os feitos militares do rei bem como a sua função divina. O reposicionamento do templo foi feito de modo a preservar a sua orientação face ao sol. Hoje, como então, nos dias 21 de Fevereiro e 22 de Outubro os raios do sol nascente iluminam o coração do santuário que existe no fundo escuro do templo banhando de luz as estátuas de Amon, Ra e Ramsés.

A alguns metros de distância fica o templo de Hátor, deusa da beleza e do amor, dedicado a nerfertari, a esposa favorita de Ramsés, e onde o rei mandou gravar: "Nefertari, pelo amor da qual o sol se levanta."


terça-feira, janeiro 19, 2010

Egipto - as suas gentes

Mais um álbum de fotografias do Egipto, este com imagens de pessoas com quem nos cruzámos. Pode ser visto aqui ou no link "Egipto 2009", à direita.

sexta-feira, janeiro 15, 2010

A cruz copta


Já se sabe que as paixões são irracionais e só isso justifica que me tenha tomado de amores pela cruz copta, símbolo do cristianismo no Egipto.
Ou talvez a razão exista e tenha a ver com a minha surpresa ao descobrir que a cruz existia já no tempo dos faraós, que aparece amiúde representada nos desenhos que decoram paredes milenares.
Corria o primeiro século da era a que se chamou cristã, o Egipto era governado pelos romanos, que, como bem se sabe, são loucos e perseguiam os seguidores de cristo, sentindo na nova religião uma força que os ameaçava.
Obrigados a calar a sua fé mas querendo, ao mesmo tempo, manifestá-la, os cristãos tiveram a argúcia de escolher como símbolo um hieróglifo, um entre tantos, um que representava uma cruz com um laço.

Passaram assim despercebidos aos olhos dos romanos que, nunca é demais repeti-lo, são loucos e encararam a cruz como um amuleto inofensivo.

Não se sabe ao certo o significado que, no tempo dos faraós, era dado a essa cruz. Sabe-se que era chamada "chave do Nilo" ou "cruz da vida". Há quem defenda que representa as marcas que se alinhavam nas margens do Nilo para assinalar o limite das cheias. E como as cheias traziam solo novo e fértil, o desenho passou a simbolizar a renovação da vida.
Outros garantem ser a chave que abre as portas aos mistérios do reino dos Mortos. Ou a força criadora da vida, por ser utilizado por Amon, o deus dos deuses.

Seja como fôr, continua hoje a representar a igreja cristã do Egipto, a Igreja Copta com a cruz, da crucificação, e o laço, sem o princípio nem fim da eternidade.


domingo, janeiro 10, 2010

Fotografias


Os dois primeiros álbuns de fotografias do Egipto já estão visíveis aqui. e estão também acessíveis a partir do link "Egipto 2009", à direita.

A dádiva do Nilo

O epíteto, "dádiva do Nilo", foi-lhe dado por Heródoto, pela lama fértil que as águas deixavam nas terras quando se retiravam após as cheias anuais. Mesmo agora que as barragens de Nasser e Assuã regularam os ímpetos do rio e os agricultores se vêm obrigados a recorrer a químicos para fertilizarem os campos, o Egipto continua a sobreviver graças ao Nilo.

Noventa e cinco em cada cem egípcios vive na estreita margem de verde que acompanha o curso do rio, a zona arável que representa apenas uma ínfima parte da superfície do país. O resto, imenso, é deserto de areia e rochas.

Não é preciso uma visão aérea ou uma viagem google earth para nos apercebermos disto, basta pôr o pé em terra. Poucos passos depois o verde cede lugar à vastidão árida que constitui 96% do país.

sexta-feira, janeiro 01, 2010