domingo, maio 02, 2010

Dura malaquite

Abandonamos o Altiplano para rumar ao Pacífico. Mais do que a diferença de altitude e de paisagem é a mudança de clima que surpreende. Como num avião que inicia a aterragem despedimo-nos do céu azul de Atacama, atravessamos uma camada de nuvens baixas e mergulhamos num nevoeiro cerrado.

Se não fossem uns abutre de cabeça vermelha pousados à beira da estrada e não teríamos ouvido a explosão nem apercebido que estávamos a passar ao lado de uma pequena mina: um túnel escuro e poeirento rasgado na montanha, escorado com barrotes de madeira que parecem querer cair. Uma carreta enferrujada acentua o ar de far-west.

Cá fora dois homens afadigam-se junto a uma grande peneira. Com as mãos distorcidas a que faltam dedos e falanges, agarram os pedaços azuis-turquesa de malaquite e separam-nos da rocha castanha. trabalham em silêncio, repetindo mecanicamente e sem cessar os mesmos gestos.

BUM! Outra explosão e o túnel vomita uma sufocante nuvem de onde sai, como um fantasma, um terceiro homem.

Com passos lentos, arrastados, deixa-se cair num banco improvisado, desenvencilha-se com esforço das protecções e deixa a descoberto os cabelos e o rosto brancos de pó, o olhar carregado de desânimo, o ar exausto, esgotado pelo trabalho duro. Ou pela vida?

2 comentários:

Rutix disse...

Que fotos!!!!

Nicole disse...

Des photos émouvantes, par lesquelles on perçoit toute la dureté du travail dans cette petite mine, "à mains nues". L'homme attaque la roche, la roche attaque l'homme...