Nunca tinha entrado num avião mas não foi isso que o impediu de voar da sua Inglaterra natal até à Índia. Também nunca tinha subido a uma montanha mas, mesmo assim, traçou como objectivo ser o primeiro a atingir o topo do Everest. Sozinho. Coisa pouca. E queria fazê-lo para mostrar ao mundo que as dificuldades da vida se podiam vencer com uma combinação de jejum e de fé. Excêntrico, louco, (mad Yorkshireman) foram alguns dos epípetos que se lhe colaram à pele mas ninguém nega a coragem e determinação de Maurice Wilson.
Comprou um Gipsy Moth a que chamou Ever Wrest e aprendeu a pilotar, embora tivesse precisado do dobro de aulas normal.
Se a preparação para voar foi rudimentar, pior foi o treino para a subida ao Everest. Maurice Wilson não comprou equipamento adequado, não aprendeu técnicas de escalada em gelo nem a utilizar crampões, limitou-se a fazer algumas caminhadas diárias nas colinas de Lake District mas achou suficiente. ("What can possibly go wrong?")
Apesar do Air Ministry o ter proibido de levantar vôo e dos esforços do Governo britânico para o impedir de avançar, chegou à Índia em Junho de 1933, duas semanas depois de ter abandonado o solo inglês, o que, só por si, já foi uma proeza extraordinária.
A autorização de entrar no Tibet foi-lhe recusada mas não o travou: contratou três sherpas e, disfarçados de monges budistas, atravessaram as montanhas de Sikim e Tibet e percorreram os quase 500 km de Darjeeling ao mosteiro de Rongbuk onde chegaram esgotados e onde Maurice pôde aproveitar algum equipamento lá deixado por uma expedição anterior.
Mas a inexperiência de Maurice era tanta que se desfez de um par de crampões abandonados, que tanto o teriam ajudado na passagem dos glaciares.
É do mosteiro que parte, sozinho, para a 1ª tentativa e é ao mosteiro que regressa, exausto, cego pela neve, incapaz de progredir devido às dificuldades em atravessar os glaciares e ao mau tempo. Com a ajuda dos carregadores sherpas atinge o Camp III e apesar das tentativas destes para o dissuadir, parte uma vez mais sozinho.
A 31 de Maio de 1934 escreve a última entrada do seu diário: "Off again, gorgeous day!" Pelos vistos não foi... Morreu sozinho de frio ou exaustão.
O seu corpo foi encontrado no ano seguinte pelos membros da expedição liderada por Eric Shipton. Nessa noite os membros do grupo leram em conjunto e em voz alta o seu diário "Não podemos ficar indiferentes à sua extraordinária coragem."
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