terça-feira, setembro 30, 2008

A Pan-Americana

Chama-se Pan-americana e tamanho não lhe falta: cerca de 48.000 quilómetros. Mais do que uma estrada é uma rede de estradas que descem desde a baía de Prudhoe, no Alasca, até Ushuaia, na Patagónia argentina. Tem apenas uma interrrupção, um "soluço" de 87 quilómetros entre o Canal do Panamá e a fronteira deste com a Colômbia. Dizem que assim é para proteger a floresta tropical, para evitar a propagação de doenças. Tem trechos alcatroados, outros nem por isso, atravessa montanhas geladas, planícies e planaltos desertos, selvas densas.

Há zonas intransitáveis na época das chuvas mas no Equador, onde a encontrámos várias vezes, é uma concorrida "auto-estrada" com direito a portagem por onde passam diariamente formigueiros de camiões. Nas bermas os postos de venda de gasolina disputam o lugar com barracas de vendas meio improvisadas.

Mas ainda é possível encontrar trechos da antiga pan-americana, empedrada, tranquila e bucólica, reservada a um reduzido trânsito local, como os que cruzámos a pé, numa caminhada junto ao vulcão Imbabura.


Um sistema tão vasto, tão incompleto e incompreensível que não é tanto uma estrada mas o próprio espírito pan-americano.
Jake Silverstein, 2006

segunda-feira, setembro 29, 2008

Latitude 38º 43´20" N

Não foi um mas três, sim, três!, os ovos que a minha grande amiga SCM equilibrou em latitude bem distante do Equador. Não contente com a proeza ainda arranjou tempo para escrever sobre o assunto. O The Great Balancing Act of 2008 é um post cheio do humor requintado que a carateriza. E não ficou por aqui: em How to Stand an Egg on End ensina-nos a habilidade e muito mais sobre ovos, de truques a ... omeletas.

segunda-feira, setembro 22, 2008

Fotografias do Equador

Os dois primeiros álbuns com fotografias do Equador estão on-line. Um tem as fotografias de Quito a Otavalo, o outro os retratos de "família". Também estão acessíveis a partir da margem do blogue em Álbum de fotografias /Equador - Agosto 2008.

domingo, setembro 21, 2008

Latitude 0º 0' 0'' - O ovo em pé

O Professor Carlos Fiolhais, alma caridosa e profundamente conhecedora, desmistificou o mistério do ovo em pé:

É um embuste. A maior parte dos ovos podem ser postos de pé num sítio adequado por qualquer pessoa que tenha suficente paciência. Não tem nada a ver com o lugar nem com a data (há um mito urbano que fala de por de pé ovos no equinócio, como aquele que se vai dar a 22 de Setembro, mas ele já foi desmontado por muita gente, incluindo o insubstituível Martin Gardner, no não menos insubstituível "Skeptical Inquirer").

A resposta completa está no imprescindível De Rerum Natura , e aqui podem ser lidos os comentários de outro físico, Jan Martin, à mesma experiência.

quinta-feira, setembro 11, 2008

Dia de mercado em Otavalo


Eles vestem um poncho azul escuro e calça branca, chapéu de feltro de onde escorre uma longa trança. Elas usam xaile, preto, que faz sobressair as rendas da blusa branca, duas capas de lã, sobrepostas e várias fiadas de colares dourados.
Eles.. são os Otavaleños, os habitantes da zona de Otavalo, os que melhor preservam os trajes incas.

Hábeis tecelões, melhores comerciantes, conseguiram a proeza de se adaptarem à economia moderna e, sem perder a sua identidade cultural, ser o grupo indígena mais próspero da América Latina, Fiar, tecer, fazer trocas comerciais, estão-lhes no sangue, desde há muitas gerações. São, no dizer das outras comunidades índias, "os aristocratas".

Otavalo, a cidade, fica um pouco a norte de Quito, num bonito vale entalado entre o vulcões Imbabura e Cotacachi. Aos sábados, quando o mercado diário tem a sua expressão máxima, mas também em qualquer outro dia, enche-se de côr, de cheiros, de animais, de gentes, de alegria. De autocarros de turistas e jipes de comerciantes. De toalhas e calças, de tapeçarias e pinturas, colares e bordados, madeiras e couros, chapéus e cestos e cerâmicas e ...
Sempre com um sorriso, discutem-se preços, regateia-se e os dólares americanos, a moeda local, trocam de mão, a conversa flui ...

quarta-feira, setembro 10, 2008

Latitude 0º 0' 0"

Na escola aprendemos que é uma linha imaginária que divide a Terra em dois hemisférios iguais. Será, mas aqui, a norte de Quito, está bem visível, marcada no solo. Um pouco torta, até, que a zona é sísmica e as oscilações do solo são frequentes. E não lhe chamam "equador" mas "linha equatorial", para que não se confunda com o país a que deu o nome.
As últimas medições atribuem-lhe 40 075 016, 686 m. Atravessa 3 oceanos e 14 países como bem o comprovou o sul-africano Mike Horn que a pé, de bicicleta, de canoa e veleiro fez o mesmo e relata o feito extraordinário no livro que me acompanhou e entusiasmou nesta viagem: Latitude Zero.

As fotografias foram as clássicas, um pé em cada hemisfério, todo o grupo em equilíbrio sobre a linha, a marca da latitude zero. E não faltou o toque "científico" do ovo cru que, assente sobre a linha equatorial, se mantinha de pé. Talvez um dia alguma alma caridosa e conhecedora me explique quais as razões físicas que o justificam. Ou não...

domingo, setembro 07, 2008

San Francisco de Quito

Por lá passaram os nómadas Quitus, os incas Huayna Capac e Atahualpa, mas foi o espanhol Sebastian de Benalcázar quem lançou as pedras da cidade que hoje conhecemos, construída sobre as cinzas da cidade inca que fora incendiada por Rumiñahui na tentativa, vã, de impedir a progressão dos invasores. Situada num vale estreito à sombra do vulcão Pichincha, Quito é uma cidade de contrastes que começam logo pela disparidade entre os 47 km que vão do norte ao sul e os 4 km de este a oeste.

Há a cidade velha, a quem a classificação de World Heritage Site deu novo ânimo e cara, de ruas estreitas e casas de cores suaves e janelas de ferro forjado, há igrejas cheias de gente e de fé, onde o barroco se mistura com traços coloniais ou mesmo árabes, onde as gárgulas são tartarugas ou iguanas.

Nas lojas tradicionais, onde, lado a lado, se vendem ovos ou cigarros à unidade, índios de várias etnias e indumentárias cruzam-se com adolescentes ocidentalizados e executivos de fato e gravata. E sobre o Panecillo, sobranceiro à cidade, a estátua da virgem protege a cidade das fúrias do vulcão Pichincha.