quinta-feira, setembro 28, 2006
Botswana - PN Chobe - O que faz correr Dumbo?
O Parque Nacional de Chobe, no norte do Botswana, alberga, nos seus 11.000 quilómetros quadrados, uma espantosa variedade de vida selvagem. Na zona junto ao rio Chobe, onde se concentra larga percentagem de animais, e nas escassas três horas em que por lá andámos, vimos búfalos, hipopótamos, zebras, crocodilos, girafas, elefantes, impalas, kudus e outras ``bêtes a cornes``, pássaros...
Verdadeiramente significativa é a população de elefantes. Fruto de uma bem sucedida política de conservação, começou com um milhar no início do século XIX, escapou ao abate ilegal e intensivo dos anos de 1970 a 1980 e é, hoje, avaliada em cerca de 120.000. Não foi, por isso, grande o nosso espanto com a enorme quantidade que vimos.
Espantoso foi assistir à correria desenfreada de uma pequena manada de elefantes que, envolta numa nuvem de poeira e a barrir, fugia talvez de um leopardo, um dos predadores que se atreve a atacar elefantes.
(Não é o som original, mas, pode ouvi-los aqui )
domingo, setembro 24, 2006
Botswana - Makgadikgadi salt pans
O nome, Makgadikgadi, terra vasta e sem vida, diz quase tudo.
Características das regiões desérticas, as "salt pans'' (que deixo em inglês por desconhecer a tradução correcta) são um pedaço de terra plana, coberta de sal.
Quando estão secas, o que acontece na maior parte do ano, são cinco mil quilómetros quadrados de branco, um branco brilhante que fere a vista, e apenas parecem ter vida nos curtos meses de chuva do verão austral, quando se cobrem de alguns centímetros de água e abrigam várias espécies de aves aquáticas.
É, pois, com surpresa que, em plena estação seca, em vez desolação cativante que esperávamos encontrar, nos deparamos com um bando de pelicanos, a nadar tranquilamente nas águas azuis.
Coisas deste tempo em que nem o tempo obedece a regras...
Parêntesis
(
Abra-se um curto parêntesis para anunciar duas novidades. Mochila às Costas tem agora um contador de visitas e, mais importante, a possibilidade de subscrição de um serviço que avisa das actualizações. Feche-se o parêntesis.
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quinta-feira, setembro 21, 2006
Como eu atravessei África
Adeus casa, adeus chambre, adeus pantufos, adeus vida tranquila e plácida junto dos meus; aí volvo a correr mundo.
in Como eu atravessei África
Serpa Pinto
1881
Hoje já ninguém vê na África senão um dos vastos quarteirões do mundo, tão próprio à vida como qualquer dos outros conhecidos, tão digno de desvelo como o mais rico dos supracitados, amplo campo de afã commercial, cuja primeira base segura de civilização cumpre ou antes é dever do Europeu explorar, não só no interesse dos seus habitantes, como em proveito do tráfego comum; enfim de esquecido e oculto que foi, tornar-se-á dentro em pouco opulento, cobiçável e assaz visitado, transformando-se num grande centro de consumo para todo o excesso da nossa produção.Serpa Pinto
1881
in De Angola à Contracosta – descripção de uma viagem atravez do continente africano
H. Capello e R. Ivens – Officiaes da Armada Real Portuguesa
1886
H. Capello e R. Ivens – Officiaes da Armada Real Portuguesa
1886
domingo, setembro 17, 2006
Vilakazi Street - Soweto - Joanesburgo
Soweto.
Não, não é uma palavra africana. É o acrónimo de South Western Township. Soweto.
Criado para abrigar os trabalhadores das minas de ouro de Joanesburgo, para lá foram transferidos os habitantes negros que, nos tempos do apartheid, o governo queria ver afastados do centro (branco) da cidade. O Soweto é, hoje, um bairro descomunal de cerca de 3 milhões de habitantes. Tem de tudo. Zonas miseráveis com esgotos a céu aberto, onde uma casa de banho sumária colocada numa guarita é partilhada por uma centena de pessoas. Zonas ricas, ironicamente chamadas Soweto Beverly Hills, onde se estendem as casas e mansões de quem, ao apartheid, deu a volta por cima. Tem oásis de paz e guetos onde poucos se atrevem a entrar. Tem grades nas janelas, nas portas das casas, das barracas e das lojas. Tem marcas do apartheid nos buracos de balas nas paredes da igreja Regina Mundi, nos memoriais aos que cairam a lutar pela igualdade, nos corações de todos. Tem uma música e culturas próprias, fortes.
E tem uma rua única no mundo: Vilakazi Street, a rua onde nas décadas de 40 e 50 moraram dois homens que mais tarde receberiam o prémio Nobel da Paz: Nelson Mandela e Desmond Tutu.
Criado para abrigar os trabalhadores das minas de ouro de Joanesburgo, para lá foram transferidos os habitantes negros que, nos tempos do apartheid, o governo queria ver afastados do centro (branco) da cidade. O Soweto é, hoje, um bairro descomunal de cerca de 3 milhões de habitantes. Tem de tudo. Zonas miseráveis com esgotos a céu aberto, onde uma casa de banho sumária colocada numa guarita é partilhada por uma centena de pessoas. Zonas ricas, ironicamente chamadas Soweto Beverly Hills, onde se estendem as casas e mansões de quem, ao apartheid, deu a volta por cima. Tem oásis de paz e guetos onde poucos se atrevem a entrar. Tem grades nas janelas, nas portas das casas, das barracas e das lojas. Tem marcas do apartheid nos buracos de balas nas paredes da igreja Regina Mundi, nos memoriais aos que cairam a lutar pela igualdade, nos corações de todos. Tem uma música e culturas próprias, fortes.
E tem uma rua única no mundo: Vilakazi Street, a rua onde nas décadas de 40 e 50 moraram dois homens que mais tarde receberiam o prémio Nobel da Paz: Nelson Mandela e Desmond Tutu.
domingo, setembro 03, 2006
África do Sul - nação arco-íris?
Tinha 13 anos e estava entre os 30000 jovens e crianças que, a 16 de Junho de 1976, participaram numa marcha pacífica protestando contra a medida do governo que impunha, como língua única na escola, o afrikaans, falado pela minoria branca.
Atingido por uma bala da polícia que os recebeu a tiro, Hector Pieterson, o menino que na fotografia é transportado ao colo, foi um dos 23 (ou 200 ?) mortos. No local onde caiu, numa rua do Soweto, em Joanesburgo, ergue-se, agora, um memorial e um museu.
Muito mudou desde esse dia e a República da África do Sul é, hoje, um país onde se realizam eleições democráticas.
Não se pode julgar um país pelo pouco que se viu de uma cidade, muito menos quando aí apenas se esteve menos de dois dias e no circuito quase fechado que, por questões de segurança, nos foi imposto.
Mas... o que dizer quando se encontra uma cidade onde as comunidades negra e branca parecem não ter pontos de contacto? Quando uns se deslocam de carro e outros a pé, de bicicleta, de autocarro? Quando as casas, além dos portões firmementemente fechados, dos alarmes, do arame farpado e dos cães, afixam placas a indicar que têm vigilância 24 horas em 24, com resposta armada? Quando hotéis, restaurantes, empresas, são dirigidos, quase exclusivamente, por brancos, cabendo aos negros as tarefas "menos nobres"?
África do Sul, nação arco-íris? Não, ainda não.
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