Ainda os olhos não se habituaram à diferença de luminosidade e já ao cérebro é pedida uma adaptação bem maior. Sai-se da Oude Kerk pisando as lajes onde repousa a fina-flor de Amesterdão, deixa-se o ambiente escuro e respeitável e, mesmo junto à porta principal, os pés quase esmagam a escultura em bronze que se destaca das pedras da calçada. Uma mão e um seio. Não se sabe quem a fez mas por lá ficou, numa homenagem às prostitutas da cidade.
Vira-se à direita, cumprimentando a estátua da prostituta Belle (encaixotada para recuperação aquando da minha visita), dão-se meia dúzia de passos e, paredes meias com as vetustas paredes sagradas, estão as janelas decoradas com veludos e rendas, luzes e vermelhos, onde meninas de várias idades, raças, formas e até género, tentam aliciar clientes.
Estamos em pleno Rossebuurt, o Bairro Vermelho, que, ao contrário do que se possa supor, não é uma zona da cidade a evitar. As ruas são animadas mas seguras, o policiamento é discretamente eficaz. Locais, turistas curiosos, adolescentes em fase de afirmação, homens de meia idade em crise de identidade, famílias inteiras... todos passam por lá. Há bares históricos, restaurantes animados; ao lado de uma inocente padaria uma loja de preservativos expôe-os na montra, coloridos, com bonecos ou animais. Nas casas de recordações chocolates de formas... huumm, peculiares, partilham o espaço com postais, tamancos, porta-chaves e bibelots, também eles por vezes ... huumm...
As meninas estão registadas e até têm um botão de emergência para contactar as autoridades caso algum encontro corra mal. Mas, convém não esquecer que prostituição é prostituição e que nas montras há vítimas do tráfico humano, trazidas ao engano, mantidas à força por uma mafia poderosa, que não hesita em promover encontros secretos envolvendo crianças.
1 comentário:
Amsterdam é tudo absolutamente diferente e inusitado, não!
Ainda lá irei..... me perder pelos canais ou simplesmente pedalar até o dia raiar!
Bj
Bia
www.biaviagemambiental.blogspot.com
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