Para quem não conhece, explique-se que uma comporta é uma obra de engenharia que permite que barcos subam ou desçam montanhas. A ideia nasceu com Leonardo da Vinci e é simples: constrói-se uma tina fechada por portas a montante e jusante, e enche-se ou esvazia-se para permitir que as embarcações subam ou desçam, ultrapassando os desníveis naturais do curso de água. Uma espécie de caverna de Ali Babá que abre e fecha não com palavras mágicas mas com o toque de uns botões.
Riquet fê-las ovais, em forma de azeitona, forma que melhor sustém o peso da terras. O orçamento ditou as dimensões, 30 metros de comprimento e 5,6 a 11 de largura, e obrigou a que fossem construídas barcaças especiais para lá poderem entrar: 29 metros da proa à popa.
A nossa primeira comporta surge com o pequeno almoço do primeiro dia de verdadeira navegação. E a primeira comporta é angustiante. Ninguém sabe muito bem o que, como e quando fazer. Entramos muito devagar tentando manobrar sem demasiados toques, olhamos para os outros barcos para ver como fazem. Os cabos voam, escorregam, quem salta para terra procura um cabeço para os amarrar. As portas traseiras fecham-se, a água começa a descer lentamente e o ar sai dos pulmões ao mesmo ritmo, num alívio prematuro pois nem 700 metros tinham passado e já outra nos espera. E é dupla, não, tripla!
Depois... habituamo-nos e, melhor ou pior, são 52 as comportas que faremos nos 100kms e 6 dias da viagem. Ou nos 5, descontando o dia de repouso forçado pela greve do pessoal que as opera.
A passagem de uma comporta é também um dos momentos em que retomamos a ligação a terra, em que o nosso universo vai um pouco além de nós e o barco. Trocam-se dois dedos de conversa com as tripulações que, como nós, aguardam a vez para entrar na eclusa, com os curiosos que se abeiram para assistir às manobras e se espantam com a a equipa quase só feminina - são italianas, dizia alguém - ou com o responsável pelo funcionamento da comporta. Olham-se com curiosidade as esculturas naifs feitas pelo antigo motorista de TIR Joel Barthes, que agora tem a seu cargo o abrir e fechar as portas de l'Aiguille.
No final acenamos um obrigado que o "comportageiro" mal vê, ocupado que está a enviar as informações de passagem à comporta seguinte e avançamos no canal até à próxima.
2 comentários:
HAHAHA !
Ces Français !
Ils font la grève ou la grêve ???
Grève (1): Du latin populaire "grava" (sable, gravier), d'origine gauloise, et par extension « plage de sable ».
Grève (2) : De "faire grève", "se tenir sur la Place de Grève" (Place de Paris où se faisaient les exécutions juridiques) en attendant du travail.
Grève (3) : Du portugais "greba", mot issu de l'arabe "djaurab", « bas, vêtement pour les jambes ».
Source wiki.
...Comme quoi Portugais et Français n'ont pas la même vision des choses !!
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