
Da região de Kimberley não se pode dizer que seja um coração aberto, pelo contrário. Duro, empedernido, inacessível na sua maior parte, esconde-se em montanhas pedregosas que só as gargantas, brechas que os rios rasgaram na rocha, criaram recantos que terminam numa piscina natural e uma cascata para, de novo, impedirem qualquer progresso. Percorremos algumas, das centenas que devem existir.
Na sagrada Windjana sentámo-nos entre paredes vermelhas e negras, no areal junto ao lago, a ver a noite cair tranquila, sob o olhar atento de alguns inofensivos freskies.Nas Bell derrapámos (e caímos) nas lajes que a chuva tornou perigosamente escorregadias, subimos e descemos colinas, vimos árvores de folhas "sogra-e-genro" e formigas de abdómen verde.

Nas Galvin atravessámos um carreiro de floresta para chegar às pinturas aborígenes que representavam o espírito que traz a chuva.
Nas Chamberlain, já no parque de El Questro, embarcámos num batelão que nos levou por entre falésias douradas e nos fez descobrir os "7 spots archers", peixes que se habituaram a apanhar os insectos lançando um poderoso jacto de água.
Nas pedregosas Emma pusemos os pés sobre as marcas que o fluxo das águas deixou sobre lajes milenárias, deliciámo-nos com os reflexos das falésias iluminadas.
Nas El Questro lutámos com passagens complicadas, escorregámos nas pedras que rolavam sob as nossas botas.
Em todas elas atravessámos rios sobre pedras em equilíbrio instável, trepámos rochas, saltámos pedras e chegámos ao fim certos de merecer o banho, por vezes fresco, por vezes frio, que aliviava os músculos desfeitos pelo esforço.




