quarta-feira, julho 29, 2009

A estrada do norte

"Só há uma estrada, é impossível perder-se."
Mas quem me disse isto subestimou as minhas capacidades e o facto de a palavra "impossível" não constar no meu dicionário. Não que o mal fosse grande. Tivesse eu encontrado a estrada que devia e ficava sem saber que o avião que serve de bar junto ao aeroporto fez parte da ponte aérea humanitária de apoio à Guerra do Biafra. Nem ido até Gamboa onde as respostas ao meu pedido de indicação do caminho foram sempre as mesmas, independentemente da direcção para que eu estava virada.

"Segue em frente e depois do hospital vira à direita.", disse uma mãe rodeada de filhos pequenos, apontando todos, não fosse eu não perceber a explicação.
Assim fiz, segui em frente, mas, em vez do hospital prometido, encontrei um carreiro cerrado que em breve se tornou demasiado estreito para o carrito que conduzia. Inversão de marcha, mudança de sentido, 180º que fizeram toda uma diferença, e um grupo de adolescentes que sorriu a resposta:
"Sempre em frente até ao hospital e vira à direita."
Agora sim, lá estão o hospital e a estrada que era suposto não ter perdido. E... estou em África. Aldeias cheias de miúdos, galinhas e porcos, muitos "adeuses" , muitos "branca, doce, doce", "érros", "dinhero", "bôlêa, ámiga" e muitos, muitos sorrisos.

Surgem as praias do norte, desertas, de águas deliciosamente mornas. A das Conchas, dos Tamarindos, a Lagoa Azul. Mais longe o padrão de Anambó assinala o desembarque dos portugueses. Em Santa Catarina no fim da estrada, sente-se a pobreza na quantidade de crianças a trabalhar em obras, nas crianças tão pequenas e tão grávidas. Um pouco mais à frente, um grupo de homens regressa da floresta com macacos mortos pendurados em varas.

Nas Neves o rio alegra-se com a roupa estendida sobre as pedras para corar e secar, acompanha-se a santola da praxe com uma cerveja Creoula, produzida ali mesmo.

Está-se bem em São Tomé...

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