sábado, fevereiro 21, 2009

Lisboa, a 7ª Colina

Ao longo das arcadas do Terreiro do Paço, pensa o viajante como seria fácil animar estas galerias, organizando em dias certos da semana ou do mês pequenas feiras de venda e troca de selos, por exemplo, ou de moedas, ou exposições de pintura e desenho, ou instalando balcões de floristas, não faltariam outras e melhores ideias, puxando pela cabeça. Talvez, aos poucos, viesse a ser possível povoar este deserto que nem sequer tem dunas de areia para oferecer.

Para descansar e repousar-se o viajante foi ao Bairro Alto. Quem não tem mais que fazer alimenta rivalidades popiulares entre este bairro e Alfama. É tempo perdido. Mesmo pecando pelo exagero que sempre contêm as afirmações peremptórias, o viajante dirá que são radicalmente diferente os dois. Não é o caso de sugerir que é melhor este ou aquele, supondo que viria a concluir-se que significa ser melhor em comparações destas; é sim que Alfama e o Bairro Alto são antípodas um do outro, no jeito, na linguagem, no modo de passar na rua ou estar à janela, numa certa altivez que em Alfama há e que o Bairro Alto trocou por desaforo. Com perdão de quem lá viva e de desaforado nada tiver.

José Saramago
Viagem a Portugal

1 comentário:

Anónimo disse...

Contrastes d'une ville superbe !