terça-feira, junho 20, 2006

A máquina


Bucareste, Outubro 1974
Ceausescu governa com mão de ferro uma Roménia triste. A segurança, a saúde e a educação são asseguradas pelo estado. Os bens essenciais também. Os outros, a saia mais vistosa, o brinquedo de cores vivas, há-os nas lojas especiais, apenas ao alcance de uma elite do regime... e dos turistas.

Teria uns 30 anos. Aproximou-se de nós, que atravessávamos a alameda enorme e deserta de acesso ao hotel, e parou à nossa frente:
"A máquina!"
A máquina de filmar que o meu pai trazia a tiracolo e que lhe entregou, sem esboçar qualquer resistência.
Os três, ali parados, suspensos no tempo. Ele, a olhar com adoração a máquina que amparava sobre as palmas das mãos estendidas, como se de uma criança se tratasse. Nós, sem ousar dizer uma palavra, sem quebrar a magia quase religiosa daqueles momentos.
Foi ele a quebrá-la, devolvendo a máquina ao meu pai. Um obrigado sussurrado, um sorriso tímido espelhado nuns olhos húmidos.

Passaram quase 32 anos e, ainda hoje, é com um olhar comovido que revejo esse dia.

2 comentários:

PJF disse...

Então já tens genes de viajante…

Anónimo disse...

Então vem dai o prazer das viagem e das imagens.
Que bom que tenhas decidido partilhar as tuas experiencias.
Aguardo também por mais, das tuas sempre, espectaculares fotos :-)