sexta-feira, novembro 26, 2010

Com a mentira não me enganas...

Uma bela manhã, daquelas em que nos levantávamos às 5h e a passávamos na estrada a ver a paisagem desfilar sempre igual, Russel tirou-nos da sonolência com uma paragem brusca do camião.

“Tenho-me esquecido de vos mostrar isto”, disse, apontando para uma bomba de água movida a vento. "Como sabem o interior australiano pode ser quente, muit, muito quente. Pois bem, para evitar que o gado morra de calor, os agricultores criaram este sistema de refrigeração automática. Quando a temperature ultrapassa os 35º o motor entra em funcionamento e faz girar as pás para refrescar as vacas.”

LOLLOLLOLL…

Se o objectivo era acordar-nos a rir, consegui-o.

Esta é uma das petas que os aussies tentam impingir aos turistas, mas há mais:

“Este animal (Russel referia-se às vacas tipo zebu, com uma bossa no cachaço) é um “camoo”, um híbrido que resulta do cruzamento entre uma vaca e um camelo e que consegue resistir aos longos períodos de seca do outback.”

Pois…

Os caranguejos atarefavam-se na praia de Cape Tribulation, escavando buracos, saindo de uns, escondendo-se em outros, deixando centenas de pontinhos nas areias molhadas, fazendo bolinhas de areia que ficavam espalhadas pela praia.

“É um efeito engraçado, não é?”, comentava Ron. “Sabem que foram estes caranguejos quem inspirou a arte aborígene?”

Claro, Ron, principalmente os aborígenes do outback interior!











segunda-feira, novembro 01, 2010

De cowboy a Camões

Avançávamos devagarinho, medindo os passos, um pé cautelosamente após o outro. A água chegava aos joelhos mas estávamos avisados que a entrada na zona em que não tínhamos pé far-se-ia abruptamente. Mais um passo, outro, mais outro e ... splash!

Ernie, que seguia à frente, já tem água pelo pescoço e esbraceja para se manter à tona enquanto, entre gargalhadas, tenta alertar-nos para o evidente mergulho.
Splash, splash, splash... Um a um caímos no rio e é a nadar que empurramos até à outra margem as caixas de esferovite onde as mochilas e roupas estão a salvo.



Por instantes não somos nós, somos crianças, somos cowboys que montados nos cavalos tentamos alcançar terra firme fugindo da chuva de flechas que os índios disparam.

De volta a solo firme e à realidade temos pela frente hora e meia de caminhada com algumas passagens mais delicadas, até chegarmos à visão da cascata e piscina natural que nos esperam para um banho merecido.

As lajes grandes e lisas convidam ao descanso, o sol aquece o corpo que a água refrescou, mas são horas de partir, de trepar as mesmas rochas, de fingir que os joelhos não doem, continuar a saltar de pedra em pedra e regressar ao rio.

Ah... mas desta vez já não sou cowboy. A caixa de esferovite deixa entrar muita água e é com ela no ar que atravesso o rio, qual Camões a salvar os Lusíadas.