"Têm apenas 1 minuto para as fotografias." Os olhos de Soledad abrem-se como que para reforçar as palavras. Somos quatro e temos uns 10 segundos cada para imortalizar a nossa imagem com um bastão de dinamite nas mãos. Ai, ai...
Ainda mal a última foto estava feita e já Soledad corria para enterrar a dinamite numa covita da encosta. E mais depresa corria no regresso, para se afastar do local da explosão.
Buuuuuuuuummmm! Bem vindos à mina de prata de Cerro Rico, em Potosi!
Vestidos a rigor, com fatos, botas, capacete e lâmpada, entramos na mina como se foramos quatro dos
anões de Branca de Neve, entoado baixinho:
A nossa enxada, a nossa pá
Nós usamos pra cavar
Cavando a nossa mina
Noite e dia sem parar
O túnel escuro estreita-se, reduz-se, andamos curvados, os pés a fazer "chlep-chlep" na água que cobre o chão. Preparamos as nossas oferendas, em jeito de pedido de protecção a El Tio, o diabo que reina nos infernos da mina: um cigarro aceso, álcool a 96º, que o rótulo assegura ser potável e de bom sabor, e um punhado de folhas de coca. A temperatura sobe à medida que descemos os túneis cada vez mais baixos e estreitos.
Juan, mineiro, cansado dos seus 20 anos de mina, explica-nos que a prata está praticamente esgotada, que aqui se trabalha de forma artesanal, 6 dias por semana, todas as semanas. Dos 14 aos 45 anos, se a saúde e a sorte o permitirem, se a protecção de El Tio não faltar.
Juan não gosta do cartaz que, à entrada da mina, afixa o número de dias consecutivos sem acidentes - 56. Como se o aumentar do número fosse um mau presságio, fizesse crescer a probabilidade de um acidente.
Regressamos à luz do dia, ao ar seco e frio de Potosi. Para nós não foi mais do que uma visita; para eles, mineiros, é o trabalho duro e arriscado, a incerteza dos ganhos sempre reduzidos, a incerteza de rever os filhos que cada dia beijam como se fosse o último, a corda bamba da vida.
Que El Tio os proteja!
Fotografias: Nicole e MMP