domingo, novembro 18, 2007

As crianças malgaxes

A nossa chegada a uma margem desvia as aldeais da dureza das lides diárias: somos uma atracção. As crianças surgem em primeiro lugar. Muitas! Doenças, problemas de nutrição ou acidentes, que aqui envolvem afogamentos ou ataques de crocodilos, matam quatro das sete que em média as mulheres malgaxes têm. As que sobrevivem, pelo menos as destas zonas afastadas dos centros urbanos, têm um comportamento exemplar.

Somos recebidos com alegria, olham-nos com atenção, riem entusiasmados com as suas imagens nas máquinas digitais mas, passados os primeiros minutos de excitação, sentam-se perto de nós. E como são sossegados! Dê-se uma bolacha a uma das crianças e, em vez de a vermos afastar-se para comer o seu troféu longe dos outros, assiste-se ao repartir da pequena guloseima por todos, que esperam pacientemente a sua vez. Brincam sem gritos, sem disparates, sem que seja preciso que alguém mais velho os impeça de fazer algo que possa representar um perigo. Os mais velhos, muitas vezes com os seus 5 ou 6 anos, ocupam-se dos mais pequenos com um cuidado e desvelo impressionantes.

domingo, novembro 04, 2007

Gasys versus vazahas

Bem que insistimos mas não, a equipa de remadores não nos quis fazer companhia nas refeições. Querem comer à parte, poder falar e rir à vontade, comer sem os bons modos dos vazahas! (Bons modos, nós?!) E a comida dos vazahas não presta!

O que come, então, um malgaxe? Arroz! Sempre e muito, muito!
Pequeno-almoço, um alguidar, sim um alguidar!, cheio de uma argamassa de arroz-colante comido à mão. Almoço e jantar, uma porção igualmente generosa de arroz com folhas de mandioca, legumes ou molho. O arroz é o prato principal, a carne ou o peixe são apenas acompanhamentos. É impressionante a quantidade de arroz que comem. Dizem as estatísticas que cada malgaxe come 150 kg de arroz por ano, quantidade que quase triplica se o visado for de uma zona rural e fizer do esforço físico a sua forma de vida.
E o arroz, como quase toda a comida, é cozinhado sem sal, interdito por algumas etnias pois, por ser retirado do mar, pertence ao deus Zanhary.


E nem na bebida nos entendíamos. Enquanto os copinhos-de-leite dos turistas bebiam água engarrafada ou purificada com Micropur, os nossos bravos remadores preferiam as águas pardacentas do Manambolo às quais juntavam o indispensável rum de produção caseira e artesanal comprado nas aldeias por onde passámos e cujo teor alcóolico era suficiente para rescuscitar qualquer antepassado.