domingo, junho 22, 2008

Passo a passo


Avancer pas à pas, au ras du sol et sans hâte, avec pour seul et modeste objet, mais aussi pour royale récompense à tant de patients efforts, la découverte d 'un grain de savoir et vérité.


Théodore Monod


sábado, junho 07, 2008

Pausa


Na próxima semana vou andar, de Mochila às Costas, por Florença. Uma pequena pausa no blogue e um regresso que se espera cheio de histórias para contar.

sexta-feira, junho 06, 2008

quarta-feira, junho 04, 2008

Aman Iman - a água é a vida


Ce qui embellit le désert, dit le petit prince, c'est qu'il cache un puits quelque part...


Antoine de Saint-Exupéry
in Le Petit Prince

segunda-feira, junho 02, 2008

Deserto - o chá em triplicado

Seja no mais faustoso banquete ou num modesto acampamento, não há refeição tuaregue que termine sem um copo de chá. Do verde, com muito açúcar.
Aqui, no frio da noite, é mais um pretexto para uns momentos de conversa antes de recolhermos aos sacos-cama.
Mãos hábeis passam o líquido da chaleira para o copo, do copo para a chaleira, várias vezes, para misturar o açúcar e criar espuma. E, finalmente, o nosso copo. Aliás, não um mas três.
O primeiro e mais forte é , dizem, amargo como a vida, o segundo doce como o amor e o último suave como a morte.

domingo, junho 01, 2008

Un matesito?

Às vezes viaja-se sem sair de casa. Mão amiga trouxe-me um pedaço da Argentina num pacote de Yerba Mate que se veio juntar aos já existentes mate y bombilla.
Yerba Mate, o chá argentino que é uma instituição nacional, bebe-se de manhã à noite, de preferência entre amigos. O nome deriva da palavra quichua mati e tanto designa o chá propriamente dito como a cabaça onde se bebe. Para que os pedaços das folhas não cheguem à boca o líquido é sugado com a ajuda da bombilla, uma espécie de palhinha de metal.
Para os gaúchos é uma espécie de vegetal líquido, muitas vezes o único nutriente de toda uma dura jornada.

"... the gaucho, possessing few wants and poor in the midst of inexhaustible riches, is the child of the unconcern; with food or without it, with shelter or not, a paper of cigar, a little mate, one meal a day of meat cooked in the open air without bread or vegetables, and his guitar at night, and he rests content ..."
Ernest William White, 1881


When people gather to drink mate something magical happens. It is a simple, daily custom and yet it has all the characteristics of a ceremony. Like any ceremony it has rites which are carefully performed in the same way, day after day. It is a moment of leisure with friends and family. In the country the gauchos sit together around the fire, sipping their mate after a long day's work. Tiredness breeds silence and silently the mate gourd circles from hand to hand. And then, slowly, conversation starts, people come closer together, confidences are exchanged.
Mate is drunk by everybody: it is drunk by the trucker and his companion in the loneliness of the long, never-ending routes; by the students, when studying; by workers during their midday rest; at home for breakfast or on any other occasion, rain or shine, in summer or in winter."

in The Mate
Monica Hoss de le Comte


sábado, maio 24, 2008

Paris, as imagens

As fotografias de Paris já estão on-line e podem ser vistas aqui, ou no link à direita, em "Álbum de fotografias".

quarta-feira, maio 21, 2008

Paris vale sempre a pena

Paris é imortal e as recordações das pessoas que lá vivem diferem de umas para as outras. Acabamos sempre por voltar, sejamos nós quem formos, ou mude Paris no que mudar, ou sejam quais forem as dificuldades ou as facilidades que, ao regressarmos, se nos deparem. Paris vale sempre a pena, pois somos sempre compensados de tudo o que lhe tivermos dado.

in Paris é uma Festa
E. Hemingway



(Rue Didot - 14eme)

sábado, maio 17, 2008

Cafés com história - Les Deux Magots

As duas estátuas confucianas (magots) deram-lhe o nome, a elite intelectual e artística que lá se reunia deu-lhe a fama. Sartre, Simone de Beauvoir, Picasso, Hemingway, Rimbaud e muitos outros, sentaram-se às suas mesas a escrever, a discutir ou a conversar. A clientela de hoje instala-se na esplanada a olhar a igreja de St Germain des Prés, a ver desfilar parisienses e gente dos quatro cantos do mundo, a bebericar um chá ou um chocolate quente com sabor de outros tempos.

Há quem entre apenas para olhar e sentir a atmosfera de épocas passadas, há quem se junte com amigos a debater ideias, há quem folheie os jornais diários.
Mas o Les Deux Magots é apenas um dos muitos cafés literários de Paris. À nossa espera, quase ao lado, está o Flore e, um pouco mais distantes, a Brasserie Lipp e a Closerie des Lilas.

Dali ao Lipp era um bocado e todos os sítios que o meu estômago reconhecia [...] aumentavam o prazer daquele passeio. Havia poucos clientes na brasserie e, quando me sentei no banco encostado à parede, com o espelho por detrás e uma mesa à minha frente e o criado me perguntou se eu queria cerveja, pedi um distingué, que é uma grande caneca de litro, e uma salada de batata.


in Paris é uma Festa
E. Hemingway

segunda-feira, maio 05, 2008

Ils sont fous....

Um percurso de autocarro alterado devido a obras e dou comigo junto à Périphérique, uma espécie de CRIL parisiense. Zona descaracterizada, cheia de torres de apartamentos, enormes e sem alma, tristonha, vazia de gentes e de interesse.

Procuro uma estação de metro e eis que, sem nada que o fizesse prever, Obélix pragueja. Surpresa! Sem querer, sem saber, dou comigo na Rue René Goscinny, o pai de Astérix, Lucky Luke, Oumpah-pah e Iznogoud.

Uma livraria, balões de BD pendurados nos candeeiros. Pouca coisa, talvez, mas, a dose de poção mágica suficiente para transformar um recanto sem graça no abrir de livros tantas vezes saboreados.

domingo, maio 04, 2008

De olhos em bico

Apetece-lhe um khao guai (pequeno almoço tailandês), um prato de laap (salada de carne, do Laos) ou de pakon char poat koun (camarão com milho, do Cambodja)? Basta dirigir-se ao 13eme Arrondissement, mais conhecido por Bairro Chinês de Paris.
Junto às fábricas do que foi um bairro industrial dos arredores ergueram-se descomunais torres de apartamentos, residência dos muitos operários que nelas trabalhavam. O crescimento da cidade forçou a mudança da zona industrial levando consigo a maior parte dos habitantes. Apesar das rendas baixas, aos parisienses não agradou aquele bairro de arranha-céus sem alma e foram os desalojados e refugiados da China, Cambodja, Vietname, Laos e Tailândia, que, a partir dos anos 70, os ocuparam.

Hoje não é apenas um bairro, mas uma "cidade" asiática de 30.000 pessoas, uma comunidade quase autónoma onde é possível trabalhar, fazer compras, comer, viver, sem sair do ambiente oriental.
Na base da torres de 30 andares as lojas e restaurantes, os salões de chá e supermercados, ostentam placas com ideogramas chineses, tailandeses... O ano novo chinês é festejado "à grande e à francesa" com danças, desfiles, petardos e dragões. Há templos budistas, taoistas e pagodes, quase escondidos no meio de um parque de estacionamento ou num canto recatado de uma rua estreita.

O supermercado Tang Frères é um ícone, visitado diariamente por 10.000 pessoas (mais do que o Centro Pompidou). Para nós, ocidentais, incapazes de ler as etiquetas da maior parte dos produtos, é uma festa para os sentidos. Peixes desconhecidos, frutos e legumes de cores e formas insuspeitadas, cheiros invulgares e fortes e a música de fundo das muitas línguas que por lá se falam.

E, à saída, não são poucos os que fazem pintar o seu nome em caracteres chineses. Para dar sorte, dizem.

sábado, abril 26, 2008

Olhó passarinho

Nasceu o Olhó Passarinho, irmão mais novo do Mochila às Costas. Este novo blogue não é, ao contrário do que possa parecer, uma montra de fotografias mas apenas uma tentativa de me obrigar a fotografar sistematicamente. Uma fotografia por semana, é tudo o que me peço. Um passo na tentativa de vencer o marasmo em que caí ao limitar a actividade fotográfica a pouco mais que às viagens. Fica aqui a primeira. As próximas poderão ser vistas seleccionando o link ao lado.

sexta-feira, abril 25, 2008

Utile Dulci

Incomodada com o sabor desagradável de um medicamento que tomava, Maria Antonieta queixou-se ao farmacêutico da corte, Suplice Debauve. Nem mesmo o chocolate quente que bebia atenuava o mau gosto. Pelo contrário, parecia que o calor da bebida acentuava mais o trago horrível do remédio. Debauve teve a ideia de fabricar um preparado sólido, à base do mais puro cacau, onde o medicamento ficava disfarçado.
Maria Antonieta perdeu a cabeça e pediu mais variedades ... e surgiram misturas com canela, flôr de laranjeira, jasmim, café, mel e até pedacinhos de ouro.

Depois da revolução o farmacêutico abriu a primeira loja, a dois passos do Louvre, e inscreveu na fachada "Utile Dulci" - juntar o útil ao agradável.
O interior da boutique é hoje classificado como monumento histórico da cidade de Paris e simboliza um templo a que não faltam colunas e um balcão em forma de meia lua.

Não sendo, ainda possível colocar sabores num blogue fica entregue à imaginação de cada um deixar dissolver na boca um merengue finíssimo recheado de pedaços de amêndoas e avelãs caramelizadas, envolvidos numa espessa camada de chocolate negro, amargo e aveludado...


Fica também uma tradução, no mínimo delirante, de um site de informação.


Debauve & Gallais - Rue des Saints Pères, Paris

quinta-feira, abril 10, 2008

Au Lapin Agile, cabaré artístico

Mesmo em frente da vinha de Montmartre uma pequena casa côr-de-rosa com um coelho pintado na parede chama a atenção. Trata-se do Lapin Agile, o mais antigo dos "cabarés artísticos" de Paris.

O assassínio dos proprietários deu à casa o nome inicial, Cabaret des Assassins, nome que se manteve até 1875, quando o pintor e caricaturista André Gill desenhou um coelho a saltar de uma caçarola. De "Le lapin à Gill" ao actual "Lapin Agile" foi... um saltinho.

Local de encontro de músicos, pintores, cantores e boémios, hoje, como antigamente, recita-se, improvisa-se, cantam-se ou desafinam-se músicas próprias ou de outros. Hoje, como antigamente, sem microfone ou sistema de som, com o sabor de outrora.

Uma peça de teatro do americano Steve Martin, "Picasso at the Lapin Agile", colocou Einstein e Picasso lado a lado no cabaré a discutir o valor do génio e do talento.
Picasso foi, como se deduz, um dos habitués da casa, como o foram Utrillo, Braque, Brassens, Claude Nougaro. Conta-se mesmo que Picasso chegou a pagar um jantar com um quadro - Au Lapin Agile.

Ao que parece hoje as refeições são bem mais baratas.

domingo, março 30, 2008

Uma vinha no coração de Paris - "Clos de Montmartre"

Não são as cidades os meus espaços de eleição mas, como em tantos aspectos da vida, há excepções, e Paris é uma delas. Lá estão, claro, exposições, museus, e monumentos únicos mas é a pé, a deambular pelas ruas, que me sinto verdadeiramente bem, que fico com a ilusão de entrar um pouco na alma da cidade.
Parto ao acaso, acompanhada ou sozinha, máquina fotográfica a tiracolo, perco-me nas ruas e bairros, descubro e redescubro cantos e curiosidades. Como uma vinha a dois passos da Basílica do Sacré Coeur e da Place du Têtre.

Uma vinha a sério que se aperta em 1500 m2 de um terreno a norte da Basílica e que existe desde o século 15, altura em que produzia um vinho de fraca qualidade de tal modo diurético que se dizia que: "C' est le vin de Montmarte, qui en boit pinte pisse quarte" (Nota: as medidas pinte e quarte equivalem, respectivamente, a 67 cl e 93l).
A expansão de Paris ameaçou a vinha que foi salva em 1929 graças à dedicação do desenhador Francisque Poulbot, mas só a partir de 1996 a qualidade do vinho melhorou.
No primeiro domingo de Outubro a comunidade empenha-se nas vindimas, em ambiente de festa que inclui música e desfiles. Pela raridade, mais do que pela qualidade, as cerca de 1700 garrafas de "Clos de Montmartre" produzidas em 2007 foram vendidas a 45 euros cada.

À nossa!...

quinta-feira, março 27, 2008

Era uma vez o gigante Isoré...

Reza a lenda que Isoré, um rei mouro que governou Coimbra, atravessou os Pirinéus para tentar conquistar Paris. Pelo caminho fez uma paragem em Orléans onde ficou durante algum tempo e se entretinha a assaltar e matar os peregrinos que se dirigiam para Santiago de Compostela. Foi morto num combate com Guilherme d' Orange e enterrado no lugar onde caiu, pois era demasiado grande e pesado para que o pudessem transportar. O local passou a chamar-se Tombe d' Isoré e, mais tarde, Tombe Issoire.


A 19 de Maio de 2007 a lenda materializou-se na parede da escola infantil da Rue de la Tombe Issoire, em Paris, graças à imaginação das crianças da escola e às mãos da artista Corinne Béoust.

Ecoutez cette histoire qu’on nous a racontée
C’est l’histoire d’un géant qu’on appelait Isoré
Dans le Temps Isoré était vraiment méchant
Il passait tout son temps à tuer beaucoup de gens (bis)

Alors les gens de la ville se sont vraiment fâchés
Et puis, ils ont fini par chasser Isoré
Tout seul il est resté oh combien désolé
Alors il s’est caché dans la Grande-Vallée (bis)

Et le temps a passé, il s’est bien ennuyé
Il a réfléchi et puis s’est amendé
Il a promis juré de ne plus recommencer
Aux enfants de l’école, une lettre a envoyé

Les enfants d’Tombe-Issoire furent bien étonnés
Un jour de recevoir cette lettre démesurée
Au géant repentant appelé Isoré
Ils ont bien voulu tous donner leur amitié (bis)

Pour ne pas oublier cette histoire du passé
Sur les murs de l’école, nous l’avons dessinée
Et en bas du dessin nous sommes fiers de signer
Les enfants de l’école du géant Isoré (bis)

(cantada pelos alunos da escola no dia da inauguração)

sexta-feira, março 21, 2008

A estrela de Belém

Foi preciso um último pedaço de queijo de cabra para que Moulay nos desse a solução da adivinha: "nada" (ver post "Os meninos à volta da fogueira..." de 2 de Março).
Resolvido o enigma o céu foi, uma vez mais, o tema das conversas.
"Qual destas é a estrela do Pastor?", perguntou Véronique, a suíça. Demorei um pouco a perceber que falava do que para nos é a estrela de Belém.

"Partiram e eis que a estrela que tinham visto no Oriente ia diante deles até que, chegada sobre onde estava o menino, parou."
Mateus, 2:1-16

Não admira que Véronique não fosse capaz de a encontrar, já que o problema, bem mais complicado que a adivinha de Moulay, tem constituído um desafio para astrónomos de renome e, mesmo nos dias de hoje, está longe de solucionado e continua a entusiasmar cientistas. A polémica persiste. Um cometa, uma conjugação de planetas, uma supernova, como advogava Kepler, uma sequência destes sinais ou apenas o planeta Júpiter em conjugação com a Lua? É que Júpiter, no seu movimento retrogrado, "caminha" de leste para oeste nos céus e, depois de um breve periodo de "paragem", recomeça o movimento aparente normal "deslocando-se" nos céus de oeste para este.
Ou será que a estrela de Belém foi mesmo um milagre?

(inspirado em "O que era a Estrela de Belém?", de Nuno Crato)

quinta-feira, março 13, 2008

Ernest

À equipa tuaregue que nos acompanhava juntava-se um elemento "extra": Ernest. De aspecto muito mais modesto que os companheiros, estava ali para os ajudar, se bem que não recebesse qualquer remuneração.
Incansável, tão depressa o víamos a ajudar na cozinha como a procurar e cortar lenha para a fogueira da noite, a carregar e descarregar o material, a lavar a louça...
Mas era no contacto connosco que Ernest se revelava, realmente, único. Discreto, tímido até, sempre atento às nossas vontades, e, como se isso não bastasse, não raras foram as noites em que, apesar do cansaço, se sentava à volta da fogueira e animava o ambiente com músicas tiradas da espécie de guitarra que o acompanhava.

E no momento das despedidas deixou-nos sem fala surpreendendo-nos com uma prenda a cada um de nós: cestos, caixas forradas a papel e por si pintadas.
Ernest de DJanet ficará para sempre na nossa memória.

quinta-feira, março 06, 2008

Que me saiba perder para me encontrar

O deserto não se compadece de ninguém; endurece o corpo, esculpe a alma. É necessário suportar o calor do dia, o frio da noite, a ausência do sentido do tempo e do espaço.
Theodore Monod

Londe das paisagens verdejantes descobri no Sahara um reflexo da minha paisagem interior... Atravesso um mundo onde, por fim, o sonho coincide com a realidade.

André Chouraqui

domingo, março 02, 2008

Os meninos à volta da fogueira...

Aconchegamo-nos ao redor da fogueira para lutar contra o vento frio. Ao jantar de Natal reforçado que a agência providenciou, e que significa sopa, cuscus de legumes e ananás de lata numa "mesa" enfeitada com velas, juntamos pedaços dos nossos países distantes: figos com nozes para um sabor a Portugal, um doce coração suíço, um gaulês queijo de cabra e, surpresa!, uma garrafa de vinho tinto que nos aquece a alma.

O silêncio do deserto é quebrado com música e cantigas e Moulay, o elemento mais velho da nossa equipa touareg, entretem-nos com adivinhas:
"Melhor que o paraíso, pior que o inferno; os pobres não têm, os ricos não precisam. Se não comeres morres."
E durante alguns dias, quando tentávamos, em vão, descobrir a resposta, apenas lhe conseguimos arrancar um: "Tu cherches, tu trouves."