terça-feira, janeiro 31, 2012

Longa é a estrada...


Poucas serão as pessoas a ter uma homenagem de milhares de quilómetros mas John MacDouall Stuart teve-a. Merecida, diga-se. São 3200 os quilómetros que ligam o norte ao sul da Austrália, de Darwin a Port Augusta, 3200 km que levam o apelido de quem a tornou possível, 3200km que se resumem em duas palavras: Stuart Highway.
O seu traçado, cheio de aventuras e desventuras, faz parte da história da Austrália, escrita em inglês, pelos novos habitantes.

As comunicações com a mãe pátria eram tudo menos rápidas e dependiam do tempo que os navios à vela levavam a fazer a viagem de ida e volta.  Nunca menos de 6 meses. O telégrafo, que já unia Inglaterra à Índia, prometia encurtar as distâncias mas só seria viável se fosse possível estabelecer uma ligação terrestre através do novo continente. E, cinquenta anos após a colonização, o interior continuava terra incógnita. Nenhum branco lá entrara, não existia um único caminho que pudesse ligar o sul povoado ao norte inóspito, os mapas apresentavam um extenso espaço completamento vazio.


A imensidão, as temperaturas absurdamente elevadas ou as chuvas torrencias, um mato cerrado e feito de espinhos fortes que se cravavam na pele ao maispequeno contacto e, so bretudo, o desconhecimento dos raros pontos onde o abastecimento de água fosse possível, faziam de qualquer tentativa um pesadelo a que, geralmente, só a morte vinha trazer alívio.

Em expedições com poucos homens e cavalos, para assim poder avançar mais facilmente, JMS foi avançando tenazmente pelo centro infernal. Escorbuto, falta de água, esgotamento físico e mental, temperaturas abrasadoras, obrigaram-no a retroceder 5 vezes.
 Partiu para a 6ª tentativa em outubro de 1861 e, depois de sucessivos avanços e retrocessos, atingiu a baía de Chambers, perto do que hoje é Darwin, em Julho de 1862. Estava aberto o caminho para o telégrafo!

Regressemos ao séc XXI e à Stuart Highway, que tem aproximadamente o traçado do caminho que JMS fez no regresso. Não conseguimos sentir o sofrimento e o esforço dos exploradores mas a dureza do terreno não passa despercebida. Não há uma sombra, uma gota de água, um ribeiro, uma poça. Há mato cerrado ou um deserto vermelho que se estende bem para além do que conseguimos ver.

Cruzamos road trains que são a seiva do país, paramos em todas as áreas de serviço. São poucas, espaçadas de uns 200 kms, e tudo fazem para chamar a atenção de quem passa na estrada e levar a uma paragem, uma qualquer despesa.

Em Ailleron são as estátuas gigantescas; Barrow Creek anuncia os vestígios do que foi a sua estação de telégrafo; numa outra o proprietário anuncia ao mundo que  tem nova esposa, Wycliffe Creek afirma-se como sendo o local da Austrália onde há provas do aparecimento de ovnis, ...
Mas é em Daly Waters que todos param. (continua)

quinta-feira, janeiro 19, 2012

La Serenissima


A viagem que vai levar umas amigas a Veneza foi a desculpa para reler Corto Maltese e a sua Fábula de Veneza.

Apesar dos esterótipos, das gôndolas, dos canais, dos turistas e das máscaras, Veneza é uma cidade magnífica que transpira magia, uma cidade de mistérios, sombras e reflexos, vultos que desaparecem num beco escuro, luar, portas que se fecham e abrem, gatos, telhados, poços que falam e se transformam em arlequins coloridos, ...

Serão elas capazes de descobrir os leões gregos que mudam de côr nas brumas de Veneza? Ou de encontrar os três lugares escondidos e mágicos para onde os venezianos vão quando se cansam das autoridades, e daí partem para outros países e outras histórias? Ou, quem sabe, tirar do bolso a verde clavícula de Salomão? Porque, afinal, foi por isso que ele, Corto, aqui veio ... 


(PS: e porque não visitar La casa di Corto ?)