terça-feira, fevereiro 23, 2010

Nos céus da Europa, ao vivo.

Chama-se RadarVirtuel e dá a posição actual dos aviões que cruzam os céus da Europa. Eppur si muove! Um clique no avião escolhido e as informações estão lá todas: companhia, origem, destino, velocidade, altitude, latitude e longitude...

Se está muito certo, não sei. Se calhar não está, porque isto de dar indicações demasiado precisas tem os seus "senões". Na altura em que escrevo há dois aviões que sobrevoam o nosso país em direcção a SW e que dizem ter saído de Madrid para se dirigirem para Moscovo. Será?

Seja como fôr não deixa de ser engraçado ficar a olhar para os aviõezinhos a avançar e viajar com eles para Oman, para o Sri Lanka...

sábado, fevereiro 20, 2010

Kom Ombo - o templo 2 em 1

O Nilo arrancou parte das pedras que o formavam, o terramoto de 1992 danificou-o gravemente, mas que resta continua a impor-se como um dos templos mais emblemáticos do Egipto. Situado numa colina numa curva do rio, ergue-se como uma acrópole sobre os bancos de areia que outrora eram poiso favorito de crocodilos.
Talvez por isso uma das divindades a quem é dedicado é Sobek, o deus crocodilo, mas, numa rara associação, o templo exprime também a devoção ao falcão Horus.

O sol poente acentua-lhe os tons dourados, a luz do crepúsculo que se aproxima acrescenta-lhe solenidade. Nos corredores escuros onde só os sacerdotes podiam entrar há ainda vestígios das cores que decoravam tectos e paredes, baixos-relevos com instrumentos médicos recordam Horus, o "bom doutor".

A serenidade do templo contrasta com o ambiente em redor. Duas dezenas de paquetes apitam sem cessar para dizer aos seus passageiros que são horas de regressar, na marginal sucedem-se as lojas e as luzes, os vendedores de artesanato, de balões, de comida.

Foi bom regressar à feluca, navegar no escuro e reencontrar o sossego.

terça-feira, fevereiro 16, 2010

Diz-me quanto marcas, dir-te-ei quanto pagas

Foi Estrabão, geógrafo grego, que lhe deu o nome - nilómetro - mas não é preciso conhecer línguas clássicas para deduzir que serve para medir a altura das cheias anuais do Nilo. As marcas gravadas nas paredes permitiam que os agricultores conhecessem o avanço ou recuo das águas e assim gerissem a irrigação dos campos.
Outra utilização davam-lhe sacerdotes e oficiais de impostos: a medida do nível das cheias permitia prever o volume das colheitas e o cálculo dos impostos. Quanto mais subissem as águas, melhores seriam as colheitas e mais proveitos para os cofres do estado.

Em poços a que se acede por uma escada em espiral, como o de Kom Ombo, ou em corredores inclinados e escuros como em Edfu, os nilómetros, hoje desactivados na sua maioria, foram peça indispensável nos templos faraónicos.

segunda-feira, fevereiro 15, 2010

Darb el Arba'in

Hoje, como há séculos, caravanas de dromedários partem das martirizadas Darfur e Kordofan, no Sudão, e atravessam o deserto percorrendo uma das últimas rotas ancestrais de comércio: Darb el Arba'in, a Estrada dos Quarenta Dias. São nómadas que as guiam. Os mesmos passos, os mesmos gestos, os mesmos trajes usados por quem no tempo dos faraós pisava esta mesma pista. Uma adaga à cintura, que a AK-47 que oferece protecção para os riscos do caminho, fica escondida antes da fronteira do Egipto.

Chegámos tarde à poeirenta Daraw, ponto final das caravanas. Demasiado tarde para ver a animação do mercado e os poucos dromedários que encontrámos estavam já recolhidos num pátio, prontos para o trabalho nos campos ou para seguirem para o Cairo onde se deixarão fotografar com turistas sorridentes ou serão as estrelas de uma refeição exótica.

O sol começa a baixar e, feitas as compras para abastecer a feluca, deixamos as ruas de Daraw a bordo de dois táxi, misto de pick-up e APE 50, que nos conduzem à entrada de mais um templo.


domingo, fevereiro 14, 2010

Philae

O templo de Ísis emerge das águas azuis do Nilo, banhado pela luz dourada do fim do dia.

Depois da construção da 1ª barragem o templo ficava submerso parte do ano, altura em que os turistas o podiam ver através das águas translúcidas. Mas a construção da 2ª barragem iria submergi-lo para sempre e foi necessária a intervenção da UNESCO para o deslocar, peça a peça, para a ilha de Agilkia que foi modificada para que se assemelhasse à original Philae.

Perdidas há muito as cores vivas que embelezavam paredes, tectos e colunas, o templo de Ísis parece ter conseguido captar o seu espírito, a sua imortalidade que a escritora inglesa Amelia Edwards bem soube traduzir:

The approach by water is quite the most beautiful. Seen from the level of a small boat, the island, with its palms, its colonnades, its pylons, seems to rise out of the river like a mirage. Piled rocks frame it on either side, and the purple mountains close up the distance. As the boat glides nearer between glistening boulders, those sculptured towers rise higher and even higher against the sky. They show no sign of ruin or age. All looks solid, stately, perfect. One forgets for the moment that anything is changed. If a sound of antique chanting were to be borne along the quiet air–if a procession of white-robed priests bearing aloft the veiled ark of the God, were to come sweeping round between the palms and pylons–we should not think it strange.