domingo, março 22, 2009

Alexandra David-Néel

O ambiente onde cresceu era o que se esperava em 1868, ano em que nasceu: austero. O que não seria de esperar é que a pequena Louise Eugenie Alexandrine Marie David, que viria a ser conhecida por Alexandra David-Néel, levasse a sério a promessa que fez: ultrapassar os feitos dos heróis de Júlio Verne.
Aos cinco anos fugiu de casa, pela 1ª vez. Uns anos mais tarde deixou a família a passar férias na Bélgica, partiu a pé para a Holanda e daí para a Grã Bretanha. Aos 17 anos passou pela vergonha de ser arrastada para casa pela sua mãe que a foi buscar à Suíça, onde tinha chegado sozinha, de comboio e, também sozinha mas a pé, atravessado o S. Gotardo.

Poder-se-ia pensar que o seu casamento tardio com o engenheiro Philippe Néel a levaria a assentar mas sete anos depois do enlace Alexandra partiu para a Índia numa visita de estudo que deveria durar 18 meses e se prolongou por 14 anos.
Num mosteiro de Sikkim dedica-se ao budismo e conhece o jovem Aphur Yongden que se torna seu filho adoptivo e com quem viaja para o Japão, Coreia e China.

Disfarçada de pedinte tibetana leva quatro meses a percorrer o Tibet a pé até alcançar a cidade proibida de Lhasa. É a 1ª mulher a fazê-lo e só é descoberta pelo invulgar hábito de se lavar num riacho todas as manhãs.


Com a bonita idade de 100 anos e já há muito regressada à sua França natal, solicita a renovação do passaporte. Morre a 8 de Setembro de 1969 pouco antes de completar 101 anos e as suas cinzas foram espalhadas sobre as águas do Ganges. (Mais wiki)


quarta-feira, março 18, 2009

A luta tradicional

O desporto nacional é o futebol, o voleibol e o basquetebol são cada vez mais populares mas é a luta tradicional que corre nas veias dos senegaleses e dia de combate é dia de concentração dentro e fora dos estádios, ou pelo menos junto aos rádios e às televisões.
O que podem então fazer duas toubabs em noite de combate em Ngandane? Juntar-se à multidão nervosa que se apinhava junto à porta estreita do estádio e tentar entrar no recinto.
O estatuto óbvio de turistas e a hospitalidade senegalesa abriam-nos as portas e minutos depois lá estávamos nós, sentadas no chão poeirento, entaladas entre uns milhares de apoiantes nervosos e ruidosos.

Se em tempos idos as lutas serviam para conquistar uma mulher ou para designar o mais forte da aldeia, hoje é um desporto que seduz multidões e os melhores atletas são pagos a peso de ouro. Não é raro ver miúdos e jovens que passam horas seguidas nas praias a treinar com afinco, na esperança de um dia se puderem juntar aos seus ídolos.

Mas o espectáculo, pelo menos para os nossos olhos leigos, está fora do pequeno círculo de areia onde se desenrola o combate. Está no colorido dos fatos das mulheres que cantando se passeiam pelo recinto obrigando a uma paragem nas disputas. Nos gritos, nos uivos da assistência, nos cânticos de incitamento, no ecoar surdo, poderoso, incessante, arrepiante dos tambores. E nos lutadores, corpos musculados brilhantes dos óleos que trazem boa sorte, cobertos da areia que afasta os maus espíritos, nos amuletos, nos olhares de intimidação que lançam aos adversários.

A luta propriamente dita é rápida. Um ou dois minutos bastam para que um dos combatentes consiga forçar o adversário a colocar as costas no solo ou a ficar apoiado nos quatro membros.

Acabada esta disputa, que venha a seguinte. E outra, e mais outra....

sábado, março 14, 2009

Ibn Battuta, o príncipe dos viajantes

No início do século 14 Ibn Battuta partiu de Tânger, a sua terra natal, rumo a Meca. Movido pela curiosidade e pela fé no Islão, só regressou a casa 28 anos mais tarde, depois de percorridos 120 000 quilómetros.

Mesmo para os dias de hoje a lista de países por onde passou é impressionante: Marrocos, Argélia,Tunisia, Egipto, Síria, Arábia Saudita, Oman, Dubai, Bahrein, Turquia, Bulgária, Egipto, Afeganistão, Paquistão, Índia, Bangladesh, Myanmar, Maldivas, Sri Lanka, Filipinas, Indonésia, China, Somália, Tanzânia, Quénia, Mali.

Aqui ficam as primeiras palavras dos seus manuscritos:

I left Tangier, my birthplace, on Thursday, 2nd Rajab 725, being at that time twenty-two years of age, with the intention of making the Pilgrimage to the Holy House and the Tomb of the Prophet.

I set out alone, finding no companion to cheer the way with friendly intercourse, and no party of travellers with whom to associate myself. Swayed by an overmastering impulse within me, and a long-cherished desire to visit those glorious sanctuaries, I resolved to quit all my friends and tear myself away from my home. As my parents were still alive, it weighed grievously upon me to part from them, and both they and I were afflicted with sorrow.

E as últimas:

I arrived at the royal city of Fa's [Fez], the capital of our master the Commander of the Faithful (may God strengthen him), where I kissed his beneficent hand and was privileged to behold his gracious countenance. [Here] I settled down under the wing of his bounty after long journeying. May God Most High recompense him for the abundant favours and ample benefits which he has bestowed on me; may He prolong his days and spare him to the Muslims for many years to come.

Fonte: Ibn Battuta: Travels in Asia and Africa 1325-1354 — excerpts from H.A.R. Gibb's 1929 translation

terça-feira, março 03, 2009

Os pássaros do Saloum

É sobre umas tábuas abauladas que flutuam na água suja que enche o fundo da piroga que nos "sentamos". Não será o supra-sumo do conforto mas ninguém se importa. Uma hora e meia depois de termos partido do areal de Foundiougne, passada que está a zona de maior agitação, o "capitão" Assane permite que nos apoiemos na borda: entramos nos canais e o espectáculo vai começar.

Os artistas principais são os pássaros do Saloum. Dizem que na altura própria, de Abril a Junho, chegam a ser 60.000, que voam à volta das pessoas às vezes apenas a 1 metro, num piar incessante, como se fosse um filme de Hitchcock.
Agora são poucos mas, mesmo assim, a variedade e a distância a que permitem que nos aproximemos não dão lugar a qualquer desilusão. Garças reais, boieiras e pretas, várias espécies de gaivotas, colhereiros, patos e corvos marinhos, uma imponente águia pesqueira... E até uma lontra furtiva deu um arzinho da sua graça.

Impressionantes são os pelicanos, mais de 10 quilos de peso que meia dúzia de batidas das suas enormes e poderosíssimas asas elevam quase sem esforço e que seguimos no ar, até desaparecerem...