domingo, outubro 26, 2008

Mercados da "sierra"

O de Otavalo, que dizem ser o maior da América latina, é o mais conhecido, e o mais turístico, também. Mais autênticos e, por isso, mais atractivos, são os mercados rurais e não há povoação minimamente importante na Sierra equatoriana que não tenha o seu.
Uma vez por semana as ruas acordam com a chegada dos artesãos e dos pequenos agricultores, alegra=se com o colorido dos ponchos e chapéus dos trajes indígenas.

Ovelhas e porcos são içados para o tejadilho das camionetas ou amontoados na caixa de carga de uma pick-up. Os lamas olham-nos, silenciosos e altivos, enquanto esperam que os carreguem para o longo regresso a casa... Vendem-se frutos e legumes, apregoam-se roupas ou flores, trocam-se bananas por alguidares ou cestos.

Na zona das bancas de comida, onde o cheiro dos fritos se mistura com o do leitão assado, comem-se locro de papas , ceviches, fritadas ou humitas.
Aqui e acolá as vozes elevam-se, as discussões surgem, fruto do abuso da omnipresente chicha.
Mas não importa, dia de mercado é dia de festa e amanhã Saquili, Lacatunga, Zumbahua e muitas outras, reencontrarão a sua habitual tranquilidade.

sexta-feira, outubro 17, 2008

Viagem ao passado

O sítio era, se a memória não me falha, o jardim de um hotel em Vale de Lobos, perto de Sintra.

Teria eu uns 6 ou 7 anos e era uma criança feliz. Tão feliz que rodopiava, rodopiava, rodopiava, com a persistência que só as crianças parecem ter, deslocando-me no jardim, desviando-me das árvores que por lá havia.

Hélas, ao pescoço tinha pendurada a minha primeira máquina fotográfica, um "caixotinho" rudimentar, que não soube evitar um too much closer encounter com um tronco. E a minha alegria ficou por terra, misturada com o puzzle negro em que se transformou a máquina.

A fotografia que acompanha este post, e que encontrei ao remexer caixas com restos de passado, foi uma das primeiras que tirei e, sim, com o caixotinho destruído. Nela estão patentes algumas das normas a que qualquer fotógrafo de retratos deve obedecer:

- fotografar ao nível dos olhos do modelo para que não pareça disforme e esmagado de encontro ao chão.
- colocar-se em posição que impeça que a sombra do fotógrafo seja visível na fotografia.

;-)


quarta-feira, outubro 15, 2008

As fotos da Mochila


Mochila às Costas não quis ficar atrás do seu irmão mais novo, Olhá Passarinho, e colocou, aqui ao lado direito, um diaporama com todas as suas fotos.

terça-feira, outubro 14, 2008

Equador - Álbum de fotografias

Está visível aqui mais um álbum de fotografias da viagem ao Equador com imagens da Lagoa Cuicocha, alguns vulcões e o mercado rural de Sasquili. Também está acessível a partir da margem do blogue em Álbum de fotografias /Equador - Agosto 2008.

sábado, outubro 11, 2008

Cotopaxi - o pescoço da lua

Até parece fácil! Afinal são só 300 metros! Mas acrescente-se que os 300 metros são de desnível, que o primeiro passo vai ser dado à altitude de 4500 m; junte-se ainda que o solo que pisamos é o do Cotopaxi - pescoço da Lua, em quechua - que, com os seus imponentes 5897 m, é um dos mais altos vulcões activos (sim, activo!) do mundo, e o ar de facilidade desvanece-se de imediato.

Os primeiros a subi-lo foram o alemão Wilhelm Reiss e o colombiano Ángel Escobar, em 1872, cinco anos antes da grande erupção que espalhou a morte por mais de 100 km.

Dizem os cientistas que a todo o momento pode ocorrer uma de igual violência pois raramente está tranquilo por mais de 15 anos e a última manifestação de monta foi há 32 anos. Quando o fizer, à corrente de lava juntar-se-á uma outra corrente, ainda mais devastadora, provocada pelo derreter do gelo do seu glaciar
Espera-se que não seja hoje que se lembre de dar um ar da sua graça.

Das duas vias possíveis escolhemos, como todos os outros grupos, a mais fácil, um carreiro de terra e pedras soltas que sobe em ziguezague. Um passo, depois outro, avança-se firme e lentamente, muito lentamente, que só assim a esta altitude se pode aspirar a chegar lá acima. A magia da barreira de nuvens que se ultrapassa e, hora e meia depois do primeiro passo, a alegria de atingir a marca dos 4800m, um chá merecido e reconfortante.

Os quase 1000 metros que faltam para a cratera do topo exigem equipamento de escalada adequado e são apenas acessíveis a alpinistas experientes. Deve ser magnífico mas não está ao nosso alcance. Não importa, foi aqui, ao vencer os 4800m do Cotopaxi, que a minha viagem começou!

sexta-feira, outubro 10, 2008

J.M. Clézio - Prémio Nobel da Literatura 2008

Do seu Deserto, as primeiras palavras:

Surgiram, como num sonho, no alto da duna, meio escondidos pela névoa de areia que os seus pés levantavam. Desceram lentamente para o vale, seguindo a pista quase invisível. À testa da caravana vinham os homens, envoltos nos seus mantos de lã e com os rostos dissimulados no véu azul. Com eles caminhavam dois ou três dromedários, seguidos pelas cabras e pelos carneiros espicaçados pelos rapazes. As mulheres fechavam o cortejo. Eram silhuetas pesadas, embaraçadas nos pesados mantos, em que a pele dos braços e das testas parecia ainda mais escura nos véus côr de anil. Andavam sem ruído na areia, devagar, sem olhar para onde iam.


e as últimas:

Todas as tardes, os lábios sangrentos procuravam a frescura dos poços, a lama salobra das ribeiras alcalinas. Depois, a noite fria abraçava-os, quebrava-lhes os membros e a respiração, punha-lhes um peso na nuca. Não havia fim para a liberdade, ela era tão vasta como a extensão da terra, bela e cruel como a luz, doce como os olhos de água. Todos os dias, ao primeiro alvor, os homens livres regressavam à sua morada, lá para o Sul, onde mais ninguém sabia viver. Todos os dias, com os mesmos gestos, apagavam os vestígios das fogueiras, enterravam os seus excrementos. Voltados para o deserto, faziam a sua oração sem palavras. Como num sonho, iam-se embora, desapareciam.


Ontem, ao final do dia em que o Nobel da Literatura de 2008 foi anunciado, o laureado, Jean-Marie Clézio, era apenas mais um desconhecido na FNAC do Chiado.