quinta-feira, dezembro 20, 2007

Have yourself a merry little Christmas

De mochila às costas parto amanhã para a Argélia para mais um Natal nas areias do Sahara. O destino é a região de Tadrart, perto de Djanet, uma zona de falésias esculpidas pelo vento, areias avermelhadas, banhadas pelo Sol e pela luz da Lua que vai estar cheia.
Não estando perto do blog no Natal deixo os melhores votos de boas festas, um super 2008 e a lindíssima interpretação que Katie Melua faz do clássico de Judy Garland: Have yourself a merry little Christmas.




Have yourself a merry little Christmas
Let your heart be light
From now on
your troubles will be out of sight

Have yourself a merry little Christmas
Make the Yuletide gay
From now on
your troubles will be miles away

Here we are as in olden days
Happy golden days of yore.
Faithful friends who are dear to us
They gather near to us, once more

Through the years we all will be together
If the fates allow
Hang a shining star upon the highest bough
And have yourself a merry little Christmas now




(Faithful friends who are dear to us
They gather near to us, once more

Through the years we all will be together
If the fates allow
But 'til then we'll have to muddle through, somehow

And have yourself a merry little Christmas now)

quarta-feira, dezembro 19, 2007

Nas gargantas do Manambolo

No último dia o rio transforma-se: o leito estreita-se, as margens arenosas cedem lugar às gargantas rochosas, paredes ocre ou cinza que se elevam a muitos metros.
Pendurados nas falésias, em posições impossíveis, surgem os primeiros embondeiros. Aqui e ali pequenas cavidades escavadas na rocha, em sítios que nos parecem inacessíveis, albergam túmulos antigos.

Os pássaros desapareceram. Aqui é o reino dos crocodilos, que impedem o nosso já habitual banho nas águas vermelhas do Manambolo.
Reina o silêncio, cortado apenas pelo murmúrio das pagaias a rasgar a água.

Não sem nostalgia aproximamo-nos de Bekopaka, a primeira povoação desde a nossa partida, cinco dias atrás.
Os tsingy de Bemaraha, uma das razões fortes para o meu regresso a Madagáscar, estão apenas a uma noite de distância.

sexta-feira, dezembro 07, 2007

Dr. Jekyll e Mr. Hide

Por último, os homens. Poucos, que a maior parte está à pesca, no rio, ou a trabalhar em alguma cidade distante. Seja qual for a hora, chegam com um sorriso no rosto e uma garrafa na mão. Um líquido turvo, rum caseiro ou "cerveja" de palmeira, que nos convidam a provar. Sentam-se com os nossos remadores, a conversa flui, como o álcool, riem alto e animados.

Ao vê-los juntos, tão entusiasmados, até custa a acreditar no que Sarindra nos conta. Na chegada a Bekopaka, final da nossa viagem, depois de receberem o pagamento pela descida do rio, os remadores gastam uma boa parte do dinheiro a comprar o que na aldeia não há: mantimentos, sabão, tecidos,...
E o que fazem os simpáticos aldeões com quem, uns dias antes, confraternizaram tão amistosamente? Pilham os remadores, roubam quase metade da carga que transportam!
E, uns dias mais tarde, na próxima descida com turistas, lá vêm de novo, sorriso no rosto, garrafa na mão, para uma alegre cavaqueira...

domingo, dezembro 02, 2007

As mulheres malgaxes

Depois das crianças chegam as mulheres. São jovens, na sua maioria, e trazem consigo mais crianças. Uma à ilharga ou ao colo, outra pela mão, além dos mais cresciditos que chegaram no pelotão da frente. Conversam, riem, põe-se ao corrente das novidades das aldeias a montante, pedem para transmitir um recado a jusante.

Outras, mais velhas, olham-nos sem uma palavra, um olhar que a dureza da vida encheu de indiferença e desalento.
Aproveitam todos os nossos desperdícios, em que pegam religiosamente como se de peças de porcelana fina se tratassem: uma garrafa de plástico para encher com a água que todos os dias é preciso ir buscar, o frasco de doce, vazio, como a garrafa, precioso para fazer a vez de um copo ou tijela, para guardar sementes.
Partem como chegaram, afastando-se, discretas, conversando umas com as outras até que as suas lambas coloridas desaparecem por entre a vegetação que separa a aldeia da margem.