sexta-feira, julho 27, 2007

Mandra-pihaona!

Dentro de horas Mochila às Costas parte para Madagáscar. Quatro anos após da primeira viagem, este é um regresso prometido e muito desejado. Um circuito cuidadosamente "costurado", com passagem por locais, emblemáticos e não só, que não visitei em 2003. Do menu fazem parte 5 dias de descida do rio Manambolo, em canoa, caminhadas nos famosíssimos Tsingy de Bemaraha (património mundial da UNESCO) e de Ankarana, a avenida dos Baobás ao pôr-do-sol, a baía de Diego Suarez, que dizem ser quase tão bela quanto a de Guanabara, as águas do Índico em Nosy Be, o canal de Pangalanes, muitas reservas e parques naturais para ver lémures, osgas, camaleões, morcegos, orquídeas...

O regresso ao blogue, esse, far-se-á só em Setembro.
Mandra-pihaona! (Até breve!)

quinta-feira, julho 26, 2007

Os números de África

A viagem chega ao fim sem mais nada de relevante a acrescentar. Acrescentemos, apenas, alguns números. Impressionantes.
Durante quase 4 semanas passámos por 6 países da África. Países onde a esperança de vida é de 38 anos, como na Zâmbia ou o Zimbabwe, e só ultrapassa os 43 no Botswana. Países onde a mortalidade infantil varia entre os 44/1000 do Botswana e os 110/1000 de Moçambique.
A República da África do Sul tem um crescimento populacional de -0,46. Sim, negativo! Não que a taxa de natalidade seja baixa. As mortes é que são muitas! SIDA, cólera, malária... pense-se numa epidemia e, quase de certeza, está lá, na África sub-sahariana.


Países onde as taxas de prevalência da SIDA oscilam entre 18 e 26%. Estimados, pois estes são números obtidos por projecção a partir de testes feitos a grávidas que recorrem a centros de saúde.
A SIDA avança graças à prostituição, aos trabalhadores migrantes e aos soldados, claro, mas também graças à falta de informação e prevenção, a crenças – em certas sociedades a "cura" passa por ter relações sexuais com uma virgem.



A malária aumenta porque o transmissor desenvolve, rapidamente, resistência aos medicamentos, porque guerras obrigam as populações a fugir, muitas vezes para zonas insalubres e infestadas de mosquitos, porque, ironia do destino, os projectos de irrigação criam novos locais de proliferação. Uma rede mosquiteira tratada é quanto basta para reduzir drásticamente os números da malária. Mas uma rede custa dinheiro, 1 euro, quantia inatingível para a maior parte das famílias. Na África a sul do Sahara a malária mata 1 milhão de crianças por ano. Duas por minuto. Quantas terão desaparecido no tempo que levou à leitura deste post?

Os números de África são um tsunami silencioso...

República da África do Sul - Parque Nacional Kruger

É, talvez, o parque nacional mais conhecido pelo mundo. Os seus 20.000 km2, distribuídos numa faixa que se estende ao longo da fronteira com Moçambique, albergam uma diversidade e variedade impressionantes de vida selvagem. Aqui é o homem que fica fechado, entre o pôr e o nascer do sol, em campos bem equipados.


"Lá fora", em 95% do parque, ficam as paisagens africanas intactas, onde reinam os animais. Girafas, impalas, zebras, kudus, crocodilos, hipopótamos, pássaros - muitos pássaros - répteis, e , claro, as estrelas da companhia, os "big five", os cinco animais que os caçadores consideram os mais perigosos: elefante, leão, búfalo, rinoceronte e leopardo.

A guerra civil em Moçambique, que, durante as décadas de 70, 80 e 90, opôs a Frelimo e a Renamo, conduziu à fuga de milhares de refugiados muitos dos quais pela zona de fronteira com o Kruger. Segundo estatísticas oficiais do parque, anos houve em que o número dos que utilizavam o parque como passagem para a República da África do Sul atingiu os 10.000. Os soldados da fronteira assinalavam frequentemente a descoberta de restos de humanos devorados por leões e as autoridades do parque queixavam-se que alguns leões se tinham tornado "devoradores de homens". Na década de 90 quatro leões foram capturados por se verificar que tinham comportamentos estranhos em relação aos rangers. Um exame profundo revelou que nos seus estômagos havia restos humanos. Foram abatidos.

quarta-feira, julho 25, 2007

Maputo - a pérola do Índico

Como uma velha aristocrata, Maputo mantém o encanto, discreto, escondido sob as rugas que o tempo deixou, de forma descuidada, no abandono das avenidas e prédios, e deixa adivinhar a cidade bela e grandiosa que deve ter sido.
E edifícios magníficos não faltam, como o dos correios ou a quase centenária estação de Caminhos de Ferro, um dos mais belos da cidade. A cúpula, ao que parece, tem a assinatura de Eiffel, que a desenhou de modo a permitir a entrada de luz e a circulação de ar.

Está vazia a estação quando lá entramos a meio da manhã. O funcionário da bilheteira, a única pessoa que lá encontrámos, sorri, ensonado, e explica-nos que os primeiros comboios já partiram. Para Komatiport, na África do Sul, para onde levaram quem lá trabalha. O silêncio é tal que é difícil imaginar a agitação que deve ter tido noutros tempos e que se reproduz um pouco no início e fim de dia. Colunas de mármore, magníficas portas com vidros trabalhados, locomotivas antigas, as primeiras, a vapor, que operaram em Moçambique, tudo de uma limpeza imaculada que contrasta com o resto da cidade.


Mas Maputo é também uma cidade viva, uma vida que se exibe no movimento do porto, nos mercados coloridos, nas avenidas animadas, nas vendas de rua, nos anúncios pintados nos muros e paredes, nos grupos de amigos que se juntam nas esplanadas para intermináveis conversas em torno de uma 2M, na beleza eterna das águas do Índico.

domingo, julho 22, 2007

Moçambique - a praia de Barra

Uma praia, a da Barra, quase só para nós, bungalows sobre as dunas, um colchão confortável, o Índico aos nossos pés: uma amostra do paraíso.
Um mergulho na zonas dos corais na companhia de peixes de várias cores, tamanhos e feitios, moreias, estrelas do mar e holotúrias. De barco, procurámos o enorme tubarão-baleia, frequente na zona mas que, hélas, faltou ao encontro. Mas não faltaram os golfinhos com crias, ou a baleia, nem mesmo a raia com quem tentámos, em vão nadar.


À noite, sob o alpendre transformado em cozinha, foi tempo de nos deliciarmos com recém-pescados barracudas, camarões e lagostas acompanhados com uma refrescante sangria, cortesia de moi-même.

quinta-feira, julho 12, 2007

Moçambique - o "rei" Alexandre


Foi num vetusto machimbombo, um autocarro de transporte público, que há 5 anos, percorri esta mesma estrada, a que liga Vilankulo a Maxixe. Éramos, então, o Nuno e eu, os únicos turistas (leia-se "brancos") a bordo e a viagem foi inesquecível, boa parte dela feita de madrugada, sob um nevoeiro cerrado, a uma velocidade que excedia em muito a aconselhável, uma condução que deixou quase todos os passageiros à beira de um ataque de nervos.
Fazemo-la agora de dia, com a calma que as estradas africanas requerem, paramos num mercado e.. são horas de pensar no almoço.


Aproveito a pausa, à beira da estrada, para dois dedos de conversa com um grupito de pessoas que se concentram junto a duas cubatas.
"Aaaaah... Portugal!" Alexandre, o líder do pequeno grupo, tem lá um primo, em Lisboa. Os outros ouvem, acompanhando a conversa. As mulheres, duas, riem envergonhadas quando lhes dirijo a palavra, mostram-me a fábrica de pão numa das cubatas, onde alguns jovens enfarinhados se preparam para levar ao forno os tabuleiros com pequenas bolas.


Do camião, Gerard apita para interromper a cavaqueira e me fazer regressar. À nossa espera, um pouco mais a sul, estão as praias junto a Inhambane.

sábado, julho 07, 2007

Moçambique - Vilankulo

Vilankulo, que foi buscar o nome ao régulo Gamala Vilankulo, é mais conhecida por ser a porta de entrada para o magnífico arquipélago de Bazaruto. Mas é também uma cidadezinha simpática, um porto movimentado.
dowhs, rudimentares, de velas feitas de plásticos, que partem e chegam, pescadores que preparam a faina da madrugada seguinte, mulheres, como a Lucinda, que esperam a chegada dos barcos com o peixe que hão-de vender no mercado ou nas ruas da cidade, grupos de rapazes e homens que se juntam para intermináveis conversas.


A palavra Portugal abre portas e sorrisos. Não há assim tantos portugueses a parar por ali para dois dedos de conversa. A maior parte segue directamente, de avião, para as praias de Bazaruto. Ismael, como os outros, gosta de Portugal. E de Figo e Cristiano Ronaldo, claro. Ismael também joga futebol. Queria ser como eles, ser famoso, ser rico, ter uma casa onde morar, fugir do porto, que é a sua casa.




domingo, julho 01, 2007

Há gente assim... (uma viagem diferente)


Há gente assim... Assim, como o Luís, a Luísa e o Artur, da Papa-Léguas, que reuniram um grupo de voluntários e proporcionaram uma manhã diferente a quase duas dezenas de membros da APCL (Associação de Paralisia Cerebral de Lisboa).
Havia de tudo um pouco. Cadeiras motorizadas, cadeiras convencionais, mais ou menos "artilhadas", que isso do tuning não é apenas para carros, e até cadeiras como as mais simples de crianças. Havia, principalmente, sorrisos e muita alegria.
E lá fomos, ciclovia do Guincho fora, a rir com as marotices da Sandra que teimava em não deixar que o boné lhe cortasse a vista do mar, a conversar animadamente com a divertida Carla, de uma boa disposição contagiante, a correr atrás da Lena, verdadeira cavaleira do asfalto, que acelerava na sua cadeira motorizada porque "Mais devagar não dá gozo!"

Há gente assim, capaz de dar outro sentido ao domingo de tanta gente. Obrigada Papa-Léguas!