domingo, janeiro 28, 2007

Egipto - O ritmo dos dias


A vida sob o céu, no centro de uma paisagem de horizontes quase sempre circulares, tendo como "tecto" uma cúpula hemisférica completa onde irão inscrever-se, durante o dia, o curso do sol, durante a noite a lenta deslocação das constelações: mesmo sem relógio, o viajante saberá sempre as horas e sentir-se-á, tanto de dia como de noite, situado no centro do relógio astronómico, o único a regular a sua existência quotidiana.
Pois aqui vive-se ao próprio ritmo do cosmos; noutro sítio faz-se batota, aqui obedece-se, tal como os outros animais; o dia é o dia, a noite é a noite, e o homem, animal diurno, levanta-se ao alvorecr e adormece na obscuridade regressada.

Théodore Monod
in A Esmeralda dos Garamantes



La vie sous le ciel, au centre d'un paysage aux horizons le plus souvent circulaires, avec pour "toit" une coupole hémispherique complète où vont s inscrire, le jour, la course du soleil, la nuit le lent cheminement des constellations: même sans montre, le voyageur saura toujours l' heure et se sentira, de jour comme de nuit, placé au centre même de l horloge astronomique qui va seule ordonner son existence quotidienne.
Car on vit ici au rythme même du Cosmos; allieurs on triche, ici on obéit, comme les autres bêtes: le jour est le jour, la nuit est la nuit, et l homme, animal diurne, se lève avec les premières blancheurs de l aube et s' endormira dans l' obscurité revenue.

Théodore Monod
in L' Émeraude des Garamanthes

sábado, janeiro 27, 2007

Egipto - Monotonia do deserto


Monótono o deserto? Só por graça! Para o cego sem, dúvida, para o autêntico, o fisiológico, tal como para o outro, o viajante banal, vulgar, sem curiosidade e que não sabe ver nem olhar. Mas para o "iniciado" quantas coisas para observar, para descobrir, aliás, mais frequentemente para ler no solo [...] E até mesmo onde, à escala da paisagem, a monotonia parece ter-se instalado, pode sempre surgir o imprevisto: que iremos encontrar atrás daquela ondulação do terreno, atrás daquele cordão de dunas, no topo daquela falésia, que lugar pré-histórico, que pássaro, que planta e, na salmoura desta sebkha, que crustáceos?

Théodore Monod
in A Esmeralda dos Garamantes





Monotone, le désert? Monsieur veut rire! Pour l aveugle, sans doute comme pour l autre, le voyageur banal, ordinaire, sans curiosité et qui ne sait ni voir ni regarder. Mais pour qui a "bon pied, bon oeil", pour l initié, que de choses à obsrever, à découvri, le plus souvent d ailleurs à lire sur le sol[...] Et même où à l échelle du paysage, la monotonie semble s installer, l' imprévu peut toujours, à l improvise, surgir: qu' allons-nous trouver derrière ce repli de terrain, derrière ce cordon de dunes, au sommet de cete falaise, quel site préhistorique, quel oiseau, quelle plante, et , dans la saumure de cette sebkha, quels crustacés?

Théodore Monod
in L Émeraude des Garamanthes

domingo, janeiro 21, 2007

Egipto - Os primeiros passos


Começa cedo uma manhã no deserto. Ainda o sol não nasceu e já Peter, o nosso guia, nos acorda com o seu " À taaaaaaaaaable!"
Há que arranjar coragem para enfrentar o frio que nos espera fora do aconchego do saco-cama, sacudir a areia com que o vento se encarregou de nos cobrir durante a noite. A higiene é sumária, como não podia deixar de ser. Uma limpeza rápida com Dodots (mas, também, ... quem seria capaz de se lavar com água gelada, se a houvese?) e logo os dedos enregelados procuram algum conforto no copo de plástico com o chá bem quente do pequeno almoço. Pão egípcio, a quem as brasas deram alma, doce de figo, os omnipresentes triângulos de La Vache qui Rit, e estamos prontos.
Partimos ao ritmo aparentemente lento dos camelos. À nossa volta um mar de areia, dunas e rochas, muitas rochas de um branco impressionante.


L'extrême aridité, la sculpture étonnante de ses paysages, font du désert Blanc l'un des endroits les plus singuliers du Globe. Sa géologie apporte une vision inédite du désert. La craie éclatante le jour se pare de rose et de mauve au coucher du soleil et d'or sous la pleine lune. Le froid matinal donne aux ombres ce bleu si particulier de nos jours de neige, et l'imagination s'emballe face aux monstres de craie luttant contre les siècles d'érosion...

Patrick Darphin
in Le désert blanc

domingo, janeiro 14, 2007

Egipto - O deserto imaginário



O deserto branco, a uns 600 kms do Cairo, entre os oásis de Baharya e Farafra, é uma depressão de areia fina, leito de um antigo oceano, de onde emergem, como icebergs, impressionantes rochedos brancos. O tempo e o vento encarregaram-se de os esculpir dando-lhes formas surpreendentes, como se de estranhos cogumelos se tratassem.
Foi este o local escolhido para um Natal diferente, sem árvore e iluminações, sem perú, sem bolo-rei. Um Natal que partilhei com um divertido grupo de doze almas: 9 franceses, 1 belga, 1 coreana e eu. E os indispensáveis guias e cozinheiro, 3 dromedárias.

Foram dias de desconforto, de frio, de cansaço mas, essencialmente, seis dias de sonho. Durante 6 dias percorremos quase 120 kms num cenário irreal, lunar. E continua a não haver nada mais belo que acordar a meio da noite, abrir os olhos e ter por tecto um céu de milhões de estrelas...